In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjk3Sls_oakv_qxy-WA75orlsnccsRud1cnyNCA9BSklwSrcZpFAkm5FEhLb2_TxrjefolzJJmpMhUuGlX9pyK3UenPIJz6nXcFD9LTcKiBR3vpNLhKSXSO_Kv9WI5aUi0yCtMs/s320/peixe.jpg
Desambientação. Como seria se os
peixes transbordassem do aquário. Transbordar, se entendido como uma forma de transgressão,
receberia os aplausos dos amantes da fecundidade que destoa com a rotina. Mas
nem a todas as luminosidades correspondem fruições dos sentidos. Há presentes
envenenados. Ambientes que parecem feéricos, onde muitos aspirantes adoravam
habitar, mas meros lodos onde os pés se arrastam.
Uns, iludidos com os holofotes, com a
luminosidade atrelada à artificialidade inata, insistem e voltam à casa da
partida. Não dão conta como é artificial este ambiente. Outros, enamorados pelo
engodo da visibilidade, incautos que não suspeitam das dores da perda de
anonimato, emprestam-se ao ambiente fora do aquário e habituam-se à pungência.
Fazem de conta e ambientam-se. Inventam defesas que os protegem contra as
aleivosias do artificial ambiente. Mas há outros, empurrados pelas
circunstâncias, ou desapossados do anonimato por vontade a si alheia, que são
órfãos em terreno hostil. São os peixes que transbordaram do aquário, ou os peixes
retirados ao seu natural habitat e que esperneiam, com as energias que ainda
sobram, contra a desambientação a que foram forçados.
Uns são vítimas do ambiente que é um punhal
metido fundo na carne. Exauridos de sangue, perecem no ambiente que lhes é
corpo estranho. Outros ensaiam movimento adaptativo. Emulsionam o reflexo
condicionado, imitando os autómatos que sobrevivem em modo anódino. Servem como
circenses elementos que alimentam a bazófia dos protagonistas. Aprendem a
respirar fora do ambiente para o que foram nascidos. Confirmam os preceitos da
biologia adaptativa. Tornam-se num ser que já sabe viver fora do aquário.
Engrossam o exército, o cada vez mais numeroso exército, do ambiente fora da
água.
Os que capitulam ao exercício
adaptativo pagam, se preciso for, bilhete de regresso ao aquário de onde foram
resgatados. São os que capitulam e entretanto souberam resistir à provação da
sobrevivência. Uma vez devolvidos à agua a que pertencem, não lhes interessam
os juízos de valor. Não são algozes do ambiente deslocado que experimentaram. Ditam
infausta a experiência, mas reservam-lhe um irrelevante estatuto. Limitam-se a
olhar para dentro de si e a contemplar a água morna e límpida onde se alojam. O
resto, não importa.
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