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É a maior coragem. A maior lucidez.
Quando à frente dos pés está uma baça cortina de um tecido espesso que não
deixa ver o que se encontra do outro lado. E quando a saciedade do conhecimento
destrava o apetite pelo saber (sobretudo quando o saber é saber fazer
interrogações), por simples desconfiança que do novo desponta o amanhã em sua
diferença. A cortina baça é o sicário que encomenda a sede de conhecimento às
trevas de um deserto qualquer.
Podem alguns, com a coragem dos
forcados que vão à cara do touro, proclamar que de nada têm medo. E que seriam
diligentes se afocinhassem nos corredores ensombrecidos pela penumbra que só deixa
à mostra uns vultos disformes. Podem puxar o lustro à coragem néscia, que
através dos corredores ensombrecidos apenas vêm o nada que é fermento das
trevas. Talvez não se importem de vegetar na agnosia. Talvez lhes seja mais
excitante a exibição de glória de quem entrou no escuro labirinto e dele saiu
incólume. São os que recusam atravessar pontes, pois firmam os pés no lado que
julgam ser sua pertença e desprezam o outro lado que se descobre quando o corpo
arremete pela ponte. Coragem desta laia é lacaia da indigência.
Os mandantes, sobretudo os que
cavalgam no trémulo estado de insegurança própria, não se inquietam com a
escuridão. Porventura gostariam de demorados eclipses. Ao menos a turba seria
sossegada, pois na escuridão prefere descansar o corpo no labéu do sono. Ter
medo do escuro é lúcido. É quando a voz de protesto, ainda que silenciada no
íntimo do ser, é o maior desafio aos próceres do pensamento de perna curta. Ter
medo de ter medo da escuridão medonha não é reflexo condicionado. É quando se
embolsa a maior das coragens, não da coragem espúria dos valentes que só
conhecem a razão da força e nem dão conta de como a sua putativa grandeza é a
mais mesquinha miudeza.
A noite tem outras serventias. Pois os
olhos vendados pelo sono não partem – não podem partir – em demanda do
conhecimento.
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