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Os lábios mordidos agitam encantos
impronunciáveis. Os lábios mordidos, e que se mordem mutuamente, doam ao outro
uma torrente imensa de imagens que passam na tela mental enquanto os olhos
permanecem tapados. É quando os sonhos, os sonhos de quem todavia não se
entregou ao sono, povoam as paisagens à medida que os olhos se curvam para dentro
de si mesmos.
Os dedos passeiam-se na pele quente.
Dedilham palavras quiméricas, as palavras que açambarcam o olhar e o retiram da
sua festiva hibernação. Os olhos que então repousam uns nos outros, como se as
pálpebras fossem o púlpito onde se leem os devires prometidos. Lá, onde habitam
os sortilégios cheios de tudo a que julgamos ter direito – os sortilégios que
já não são apenas matéria onírica. As mãos passeiam-se, desenham as cores que
entronizam a perfeição. Enganados estão os que encomendam a perfeição às
divindades. Ou são modestos, ou são lunáticos apoderados por uma modéstia
suicida. A perfeição, somos nós que a compomos.
A curvatura do corpo deitado sobre a
cama é imagem da perfeição de que os mortais, por monástico imperativo,
declinam autenticar. As mãos desenham a curvatura, pousam sobre os quadris e
acompanham a suavidade das inclinações da carne. Pelo caminho, as mãos sentem
todos os poros exultantes, o febril estado que os deleites congeminam. Não
podemos recusar os estados de alma que nos são superiores. Não devemos recusar
a combustão dos sentidos desatada pelas palavras murmuradas, pelos lábios que
se mordem, pelas mãos que revolucionam os sentidos, pelos corpos entrelaçados.
O tempo despe-se de medidas. Não há noite que seja noite, ou luz diurna que apoquente.
Não há relógios tiranos na exata medida de nos empossarmos seus tutores.
Os rios que correm, torrenciais, emprestam vida. A
combustão serve as medidas das baias dos rios. Sem peias. Se julgarmos
apertadas as baias, folgamos os valados que ocultam os olhares mais altos. E
deixamo-los ser da altura que lhes apetecer. Nessa altura, sem os remoinhos que
encravam os sentidos, como se fossemos senhores da varanda que se alcantila por
sobre o mundo inteiro, deixamos que a combustão dos sentidos arrefeça os tufões
da desordem. Aterra, então, a ordem que criámos: a ordem nossa cicerone
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