Uma correria que ficou por caiar. Juram-se os modos cerzidos nos manuais da etiqueta. Os promitentes não se abespinham no palco onde o tempo não vaga. O domingo arrasta-se. Não escorraça os demónios do tempo, que se insinuam na sua paradoxal impostura. Em vez de se eclipsar antes que se dê tempo ao tempo vago, eterniza-se numa medida singular. É o domingo despido. Uma manhã tardia. A tarde entaramelada, como se as pestanas fossem de plasticina e ficassem coladas sob o sol meritório. As palavras ficam órfãs, bebendo no silêncio estrutural. São os próprios gestos que se embaciam no adiamento, como se uma vacina contra a ação tivesse sido descoberta, para gáudio dos ociosos. As roupas também se arrastam nos corpos ociosos. Dizem: as pessoas precisam da sua desídia semanal. O domingo foi feito para preguiçar. O domingo é um dia despido de substância. Ou: a substância do domingo é a sua nudez explícita. Só divergem os que se hipotecaram à tirania do trabalho. Desconfiam do domingo como desconfiam dos dias que são ermos lugares onde se desmente a natureza humana (que, argumentam, é de atividade sempiterna). Os tiranetes usam máscaras arcanas sobre os rostos seráficos. Protestam contra o esbanjamento do tempo através da inação consagrada. O domingo despido não é o seu dia. São eles os peixes fora de água quando o domingo coabita o calendário. Pudessem virar os costumes do avesso e o domingo seria banido do calendário. Pois um domingo despido tem ressonâncias pornográficas e eles são tutores dos bons costumes. Para salvação da espécie, não passam de um punhado de tresmalhados que ainda vivem agarrados às saias de um passado que não está esquecido porque os livros de História o previnem. Os demais prestam tributo à vez semanal do torpor. São eles que despem o domingo, devolvendo-o nu aos demais.
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