Nils Frahm, “Toilet Brushes – More” (live in London), in https://www.youtube.com/watch?v=Aln6DztAsMQ
Não era o infinito que alojava a felicidade. Era o que asseguravam os poetas (pelo menos). De onde viessem as falas que eram a pontuação da incógnita, era só esperar que um arco-íris derrotasse a solidão do céu. De acordo com a doutrina dos poetas, seguir a peugada do arco-íris era o segredo. Na sua extremidade, encontrava-se a morada da felicidade.
Mas havia quem contrapusesse: o arco-íris tem duas extremidades; se a felicidade se encontra na extremidade do arco-íris, de que extremidade se trata? É ao acaso? Ou as pessoas correm o risco de irem ao engano, apostadas em mapear a localização de uma das extremidades do arco-íris para darem conta que aquele é um lugar ermo para a existência de felicidade?
Os poetas não respondiam ao desafio. Não estavam para perder tempo com os astronautas da realidade concreta. Não queriam ser peticionários da meação dos termos em que se compõem as vidas reais. Chamassem-lhes alienados, que os poetas agradeciam o elogio. E não havia memória de um poeta a palmilhar baldios em demanda da felicidade. Os poetas ainda não cuidaram do inventário da felicidade. Deixam-no para as outras pessoas.
Mas havia quem insistisse no contraditório: se os geógrafos da felicidade se escondem na metáfora do arco-íris como sua morada, estão em condições de costurar as baias da felicidade? Não se aceitassem as petições de princípio que não pudessem ser sujeitas a prova. E por prova, queriam dizer a prova tangível, a elaboração cuidada que oferecesse uma noção incontestável do que se pretendia provar. Os poetas são, possivelmente, um logro. Falam do que desconhecem e oferecem-se como catedráticos de uma doutrina que nunca souberam provar. São especuladores natos.
Os poetas não precisavam de contestar a acusação. Não precisavam de provar a felicidade. Pois a felicidade não se conjetura. Ela está no arco-íris que se congemina em cada pessoa. Quando o arco-íris se anuncia aos olhos de todos, é a soma exuberante da felicidade dos que a ela não se opõem. É então que irradia como manifestação que se opõe às pessoas. O arco-íris não passa do procurador dessa felícia.
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