21.5.21

Dos nomes sem sentinela (short stories #322)

Badbadnotgood, “Lavender” (live at KCRW), in https://www.youtube.com/watch?v=pwrhDEEynfY

          Os nomes são torpedeados na enseada onde se ajeita a noite. Correm num ecrã, a uma velocidade vertiginosa. Dizem: se ao menos fossem rostos em vez de nomes. Como se os rostos fossem substitutos dos nomes. Que se desenganem os que tamanha coisa propõem. Os rostos não correspondem a nomes. À falta de correspondência, uns e outros são sabres anónimos que pesam sobre os pesadelos, como se todos esses nomes rivalizassem com todos esses rostos que vão passando (agora vagarosamente) pelo palco onde se situam os pesadelos. Todos estes nomes são inúteis. Todos estes rostos aspiram a sê-lo, enquanto teimarem numa ópera bufa de que são vítimas inocentes. Gostava de saber do paradeiro de todos estes nomes sem sentinela – escuto em surdina, uma voz povoando o espaço que, todavia, é minha pertença única. Não sei porque sussurra essa voz. Talvez não seja descabido acenar com a hipótese da servidão (que não é, convém acentuar, sinónimo de serventia). Os nomes percorrem o espaço sideral sem serem estrelas. Ao menos ficam a saber que também não são prestáveis para estrelas cadentes. Essa foi uma função que nunca intuí: quem quer ser estrela cadente? Alguns dirão: antes ser estrela por uma brevidade, ainda que em estado de pura decadência, do que nunca ter sido estrela. Contesto a linha descontínua de raciocínio. A decadência é o portal da finitude. Quando ele é usurpado, ninguém fica para testemunhar o que é sê-lo. Uma estrela cadente deixou de ser (estrela e, depressa se confirmará, cadente). Provada a fragilidade estrénua das pessoas, sobretudo das que aspiram a transcendência, sobra um quase nada desprovido de nomes. Ao menos, esses não podem arrebatar a aridez de um lugar que fica à míngua de sentinelas. Antes que o tempo nos derrote, esqueçam-se os nomes (e os rostos) sem sentinela.

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