No nascimento de uma infanta (ou coisa parecida) em Espanha, o “pretendente ao trono” português lembrou-se de produzir soltura opinativa. A infanta espanhola, ao que consta, poderá estar na primeira linha da sucessão dinástica. A Constituição do país do lado terá que ser mudada para expurgar o anacronismo da sucessão limitada a varões. O que terá sido suficiente para acalentar os sonhos da cómica figura que ainda acredita que um dia há-de subir ao trono.
Ele, que se faz passar por “D. Duarte Pio de Bragança” – numa demorada mania das figuras reais, que se dão a conhecer com uma tipologia de nomes que os diferencia da populaça – alinhavou a boda real, numa união ibérica que faz lembrar a ocupação espanhola entre 1580 e 1640. Agora quem fornecia a matéria masculina eram os lusitanos, limitando os espanhóis à consorte feminina. Como os laivos de exclusão sexual ainda permanecem vivos entre os cultores da coisa monárquica, o inimitável Pio de Bragança congeminou o secreto plano de unir os dois países pelo matrimónio de conveniência com a chancela das duas casas reais. Com uma cajadada, dois coelhos a eito: a destituição da república em Portugal, a iberização imposta com o cunho da figura masculina vinda de Portugal.
Só faltou alguém explicar a “sua alteza” que deu um passo em falso na concepção do secreto plano. Supôs que os “súbditos” portugueses estão com a bússola afinada para a monarquia, o que está longe de coincidir com a realidade. “Dom” Duarte insiste em viver num casulo feito de nuvens onde só ele consegue pousar, uma realidade virtual que só tem um habitante: ele mesmo. Acaso fosse monárquico, andaria a contas com uma terrível angústia existencial: a fraca figura que se oferece como pretendente a uma coisa inexistente – o trono real.
A proposta de Pio de Bragança retoma os casamentos de conveniência monárquica, nas ancestrais alianças entre casas reais que perduravam a mão dominadora destes regimes feitos de iluminadas figuras. São inúmeros os exemplos de casamentos acertados entre reis e rainhas de diferentes monarquias, combinações que envolviam filhos de tenra idade, prometidos uns aos outros ainda na idade dos cueiros, quando nem sequer soletravam uma tão importante palavra: “sim”. Os casamentos reais são o paradigma da subjugação do indivíduo, de como o destino lhes era traçado sem eles sequer esboçarem o entendimento do acordo.
Quando dessem conta do que lhes tinha sido reservado por pressurosos e egoístas progenitores, tarde demais para dizer não. Presos aos destinos da casa real, aos interesses supremos do país cujos cordelinhos iam herdar quando o progenitor finasse, os jovens príncipes e princesas eram adolescentes manietados, impedidos de soltar afectos. Corações prometidos, vedada a vontade própria, encurralados nos casamentos de conveniência, nem que no matrimónio se unissem duas pessoas sem identificação recíproca.
Amores de fachada – se é que se pode sequer mencionar a palavra “amor” em casos destes. Ou o amor idílico pela causa de servir o reino, como se tal coisa existisse. No restolho dos casamentos fabricados pelas casas reais europeias, um legado de infidelidades, de haréns permitidos ao suserano, com o consentimento necessário da rainha esposada, no obrigatório acto de resignação. Ao rei tudo se permite. O povo, esse, é que deve juras de fidelidade quando embarca na aventura do matrimónio.
O tempo cresceu, as mentalidades evoluíram, muitos países deslaçaram-se das monarquias. Noutros, a tradição – ou a simples aquiescência popular – caucionou a permanência das monarquias. Com a condição de se modernizarem, um pouco apenas, na ilusória ideia de que há traços de modernidade nas monarquias. Como se “monarquia” e “hodierno” não fossem palavras antónimas…Sinal dos tempos, os eleitos da realeza começaram a cair de amores por súbditas (e súbditos) do povo, desobedecendo à tradição que obrigava à consanguinidade monárquica. Plebeus e plebeias começaram a entrar no escol das casas reais. Os afectos tinham sido admitidos na vida própria dos prometidos ao trono e séquito familiar.
Todo o tempo tem o seu contrário. Todo o tempo encaixa as correntes que vêm no sentido contrário da maré. Pio de Bragança, distraído ou apenas deslocado do tempo, recuperou o anacronismo dos casamentos de conveniência. Interessante seria pesquisar os órgãos de comunicação social do país ao lado, para ver o tratamento noticioso dado à ideia mirabolante de Pio de Bragança. Posso arriscar falar de cor, mas aposto que não houve vivalma a perder tempo a noticiar semelhante tontice.
4 comentários:
Fazia melhor figura se não dissesse asneiras...
S.A.R., é o verdadeiro herdeiro do trono de Portugal e é o Chefe da Casa Real Portuguesa.
O resto são cantigas do que se diz por gente maldosa, sem carácter e com falta de esclarecimentos.
Diga mal do seu presidente, o filho do gasolineiro e da cavaca que sãos uns intrusos porque se servem dos palácios construídos pelos nossos Reis para sentarem as "bundas republicanas".
Aém do mais gostam de receber Reis e Rainhas e também vão visitá-los!
Onde está a coerência? Será que faz parte da "ética republicana"?
VIVA DOM DUARTE!
VIVA A FAMÍLIA REAL PORTUGUESA!
É um fartote de rir quando leio estas excitações de adeptos monárquicos. Tenho pena que não tenha dado de caras com outros textos onde satirizo a república. Faça uma pesquisa, aqui mesmo no blogue, só para atenuar o fel. Olhe que isso tira anos de vida!
PVM
Talvez não está suficientemente esclarecido sobre os moldes em que nos impuseram a república e para isso vai ter que consultar o site e blogue do Centenário da República, vamos fazer história:
http://www.centenariodarepublica.org/centenario/
http://centenario-republica.blogspot.com/
As verdades estão lá todas. Tudo o que nos esconderam durante 100 anos!!!
Faz parte também da ética republicana...
Não sei se o último anónimo é o mesmo de ontem. Se for esse o caso, registo a mudança de discurso (deixou de ser trauliteiro - à boa maneira da extrema-esquerda que tanto ele(a) como eu execramos - e passou a ser pedagógico.
Agradeço o convite para o blogue que pretende desmascarar o catecismo republicano.
Só dois comentários, para terminar: de uma vez por todas, não sou republicano (dar uma vista de olhos ao que está neste blogue ajudava), mas também não sou monárquico; a "verdade", assim entoada de forma tão categórica, soa-me sempre a trapaça.
PVM
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