9.11.05

Pura economia - o mundo é assim tão diferente para ricos e pobres?

Vi este cartoon no blog “Pura Economia” e pus-me a pensar: para as duas personagens retratadas – um próspero empresário e um operário – os planos serão oblíquos, como se os sinais da economia favoráveis para o primeiro tenham uma conotação negativa para o segundo? E também dei conta de um aforismo que estigmatiza a profissão de economista, dizendo o povo que onde há dois economistas há pelo menos três opiniões diferentes.

Os olhos podem ver a mesma coisa de forma diferente. Reparando no cartoon, operário e empresário estão em planos diferentes, fazendo com que a mesma curva, retratando a conjuntura económica, tenha diferentes significados para ambos. Esta é a mensagem do cartoon. Bem a jeito da retórica de quem ainda acredita na argumentação marxista de que as relações antagónicas entre oprimidos e opressores são a essência das relações em sociedade. Por cá temos os habituais defensores da cartilha. Os que professam a mensagem de que “a direita” tem um cadastro histórico de pilhar os interesses das classes desfavorecidas, num contraste que se aprofunda ao longo da história: os ricos cada vez mais ricos, os pobres cada vez mais pobres.

A história e os factos desmentem o catastrofismo. Apesar do hiato profundo que ainda separa países ricos de países subdesenvolvidos, os pobres têm acesso a coisas que lhes estavam vedadas no passado. Corro o risco de ser acusado de medir a felicidade pessoal pela capacidade de consumo das pessoas, mas os devaneios consumistas infiltraram-se por todo o lado, atingindo toda a gente – mesmo os que professam a moral anti-consumista mas não resistem aos prazeres de requintes burgueses que desmentem uma retórica que não passa de pregação teórica.

Quando ouço argumentos que trilham o modismo militante da anti-globalização, do anti-capitalismo, interrogo-me se os devotos da causa têm uma noção aproximada do que significam os chavões que embelezam protestos impregnados de folclore. Terão a consciência do que seria o mundo que renegasse o “perverso” capitalismo? Conseguem adivinhar os efeitos devastadores de propostas demagógicas como a taxa Tobin?

Por cá, os clérigos da “alter-globalização”, recolhidos no Bloco de Esquerda, lembraram-se de gastar rios de dinheiro num outdoor que enxameou as ruas, clamando por um “imposto sobre as grandes fortunas”. A vacuidade da proposta desnuda-se na antecipação dos seus efeitos: a mais que certa fuga das grandes fortunas para locais mais simpáticos quando chegasse o momento de aplicar impostos. Sempre teríamos a honra de encabeçar a vanguarda, com semelhante imposto revolucionário. Nem que o seu pecúlio fosse pouco mais que zero, por debandada geral das grandes fortunas para outras paragens. Quem seria prejudicado? Decerto não as “grandes fortunas”, mas os pobrezinhos que seriam favorecidos por uma redistribuição que não chegaria a funcionar.

Esta é a imagem fidedigna que desmente a diabolização do “grande capital”. Pode o grande capital ter apenas o fito do lucro, essa coisa terrível que desumaniza os seus detentores, tão sórdida que leva os capitalistas a espezinhar os mais básicos direitos dos trabalhadores. No auge de uma grande teoria da conspiração, os capitalistas querem-nos colonizar através de hábitos de consumo que vão levando o escasso rendimento. Depois banqueteiam-se nos lucros que extraem à custa da dependência consumista da turba, e não partilham esses lucros com os trabalhadores que lhes produzem os bens de consumo. O corolário: o que é bom para eles é mau para todos os demais, para os que vivem à míngua, enfeudados na ditadura do consumo.

Estes profetas da desgraça não compreendem que o consumo de muitos traz boas notícias para outros tantos, os que encontram emprego nas fábricas que produzem aqueles bens de consumo. Com o efeito terapêutico de muitas dessas fábricas se instalarem em países subdesenvolvidos, desbravando novas oportunidades para povos mergulhados na mais profunda miséria. No fundo, uma forma de operar a redistribuição da riqueza entre países ricos e países pobres, sob a batuta do consumo que, afinal, é profilático. E se uma das suas bandeiras é a redistribuição da riqueza, que percebam que mais lucro para uns poucos há-de significar mais bem-estar para a maioria.

Afinal o que é uma grande ilusão é a ideia de que o operário e o capitalista estão sempre em planos diferentes. Podem partir de posições desniveladas, que se hão-de manter. Mas o que é bom para o capitalista não é sinónimo de coisa nefasta para o operário. Já o contrário é verdadeiro: um lucro menor, mau para o detentor do capital, há-de ter efeitos negativos na esfera do operário.

A grande teoria da conspiração, apenas um pretexto para arregimentar fiéis preconceituosos. A inveja da abastança alheia cega muitos.

3 comentários:

Anónimo disse...

A tua análise demonstra muita falta de conhecimento, não do académico, mas do mais profundo, da realidade da vida, do dia a dia das pessoas,pobres e ricos, da realidades dos países pobres, da realidade dos países ricos, de como os ricos pensam e de como os pobres pensam.
Estás encurralado num paradigma intelectual cheio de armadilhas que tu próprio criaste.
Liberta-te e olha outra vez.Um dia acabarás por ver.

Anónimo disse...

A tua análise demonstra muita falta de conhecimento, não do académico, mas do mais profundo, da realidade da vida, do dia a dia das pessoas,pobres e ricos, da realidades dos países pobres, da realidade dos países ricos, de como os ricos pensam e de como os pobres pensam.
Estás encurralado num paradigma intelectual cheio de armadilhas que tu próprio criaste.
Liberta-te e olha outra vez.Um dia acabarás por ver.

PVM disse...

Carter, talvez tenha de ir à Índia para "abrir os olhos". Ou votar no BE e manter uma vida e hábitos burgueses.
Paulo Vila Maior