Gostava de ser economista. Descobri o gosto pela economia quando estava a terminar a inditosa licenciatura em direito. Já não havia tempo para voltar atrás. Até porque a matemática tinha ficado no nono ano de escolaridade, o que me retirava conhecimentos para usar uma ferramenta crucial dos economistas – os modelos econométricos. Na investigação que faço, quando deparo com textos de economistas há partes que são um mistério insondável: a sucessão de equações que provam um certo argumento, usando linguagem matemática com o rigor que os cultores dessa linguagem certificam. Essa linguagem é um alfabeto estranho para mim. Tal como se me detivesse diante de um texto escrito em cirílico.
Também gostava de ser meteorologista. Interessam-me os fenómenos atmosféricos. Como se desenvolvem tempestades. A dinâmica das frentes que chegam do Atlântico, carregadas de chuva e vento. Observar a evolução de depressões que se formam no interior da península ibérica e que desembocam em violentas tempestades de Verão, com trovoadas medonhas e aguaceiros que parecem despejar toda a água acumulada nos céus. E observar como as condições do tempo variam na geografia de lugares diversos na Europa. Tentar perceber, pelas imagens de satélite, como vai estar o tempo – antes mesmo de ler as previsões escritas pelos meteorologistas.
Há pouco em comum entre a economia e a meteorologia. Coincidem na apetência para as previsões. Os meteorologistas fazem da capacidade de previsão parte importante do seu dia-a-dia. As pessoas querem saber que tempo vai fazer amanhã, ou daqui a uns dias quando forem viajar para outro lugar. Consultam os boletins meteorológicos. E se procuram desmultiplicar a informação, visitando diversos sítios com previsões meteorológicas, o mais certo é encontrarem tantas previsões quantos os boletins consultados. Ficam a saber que os especialistas da previsão do tempo aprenderam por diferentes cartilhas. Cada cabeça, sua sentença meteorológica. Às vezes as previsões são um falhanço. Os modelos matemáticos e a experiência acumulada, feita da rotina do tempo que costuma fazer, traídos pela imprevisibilidade dos elementos, num desvio inesperado que baralhou as previsões.
Com os economistas, a tentação de antecipar o futuro depara-se com problemas semelhantes. A diferença é que as suas previsões são sazonais e projectam o que pode acontecer no ano que vem. Usam sofisticados modelos econométricos que dependem de variáveis infindáveis e confiam no rigor milimétrico da matemática. Entre os economistas, as cartilhas também terão sido muito diferentes, a atestar pela divergência de previsões quando se deitam a perorar sobre o que pode acontecer com a economia de amanhã. É então que se assegura, com alguma ironia à mistura, que dois economistas à mesa da discussão produzem três opiniões diferentes – e todas elas se revelam erradas quando, mais tarde, é tempo de comparar os dados da realidade com as previsões feitas.
(Um exemplo: ontem foram divulgadas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia portuguesa para 2008. São mais pessimistas do que as previsões do governo e do Banco de Portugal. Menos crescimento, mais inflação, mais défice orçamental. A excepção é no desemprego, que para o FMI será mais baixo do que nas estimativas do governo e do Banco de Portugal. O leigo pergunta: como podem diferir tanto as previsões? Estarão todos a observar o mesmo país? Haverá dados ignorados por alguma das entidades que se aventura a fazer as previsões, induzindo-as em erro? Ou algumas dessas previsões – as mais optimistas – são engodo para iludir as pessoas, um convite a redobrar a confiança no futuro, mas apenas um “wishful thinking”. E que raramente se confirma. O que é mais interessante é que, ano após ano, acabam por se aproximar mais da realidade as previsões do FMI, ou da Comissão Europeia, do que as elaboradas pelas instituições nacionais. Não será, pois, só por pirraça pessoal se disser que confio mais nas previsões do FMI. Primeiro, por maior competência técnica. Segundo, porque o distanciamento joga a seu favor. Desconfio das motivações políticas dos técnicos nacionais que manobram os modelos que resultam em previsões. Desconfio que tenham o trabalho encomendado, para satisfazerem os interesses dos políticos que os tutelam.)
Admito que a tentação de adivinhar o futuro é grande. Uma tarefa homérica, diria. Que nem a tão elevada sofisticação de modelos que usam a infalível matemática chega para obviar. É essa a beleza do futuro: a imprevisibilidade, a incerteza, os insondáveis mistérios que encerra. Os que se deitam a adivinhar o que vai acontecer são os desmancha-prazeres que revelam uma surpresa que assim o deixa de o ser. É que, ainda por cima, resvalam frequentemente para o erro, na observada percentagem das previsões que desaguam no erro. Acontece mais com os economistas, talvez por não terem o hábito diário das previsões.
É então que percebo que fiz bem em não ser economista. Eu, que tanto gozo com a astrologia, vejo uma analogia diante dos meus olhos: economistas e astrólogos atrelados na bazófia das previsões, raramente acertadas.
Também gostava de ser meteorologista. Interessam-me os fenómenos atmosféricos. Como se desenvolvem tempestades. A dinâmica das frentes que chegam do Atlântico, carregadas de chuva e vento. Observar a evolução de depressões que se formam no interior da península ibérica e que desembocam em violentas tempestades de Verão, com trovoadas medonhas e aguaceiros que parecem despejar toda a água acumulada nos céus. E observar como as condições do tempo variam na geografia de lugares diversos na Europa. Tentar perceber, pelas imagens de satélite, como vai estar o tempo – antes mesmo de ler as previsões escritas pelos meteorologistas.
Há pouco em comum entre a economia e a meteorologia. Coincidem na apetência para as previsões. Os meteorologistas fazem da capacidade de previsão parte importante do seu dia-a-dia. As pessoas querem saber que tempo vai fazer amanhã, ou daqui a uns dias quando forem viajar para outro lugar. Consultam os boletins meteorológicos. E se procuram desmultiplicar a informação, visitando diversos sítios com previsões meteorológicas, o mais certo é encontrarem tantas previsões quantos os boletins consultados. Ficam a saber que os especialistas da previsão do tempo aprenderam por diferentes cartilhas. Cada cabeça, sua sentença meteorológica. Às vezes as previsões são um falhanço. Os modelos matemáticos e a experiência acumulada, feita da rotina do tempo que costuma fazer, traídos pela imprevisibilidade dos elementos, num desvio inesperado que baralhou as previsões.
Com os economistas, a tentação de antecipar o futuro depara-se com problemas semelhantes. A diferença é que as suas previsões são sazonais e projectam o que pode acontecer no ano que vem. Usam sofisticados modelos econométricos que dependem de variáveis infindáveis e confiam no rigor milimétrico da matemática. Entre os economistas, as cartilhas também terão sido muito diferentes, a atestar pela divergência de previsões quando se deitam a perorar sobre o que pode acontecer com a economia de amanhã. É então que se assegura, com alguma ironia à mistura, que dois economistas à mesa da discussão produzem três opiniões diferentes – e todas elas se revelam erradas quando, mais tarde, é tempo de comparar os dados da realidade com as previsões feitas.
(Um exemplo: ontem foram divulgadas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia portuguesa para 2008. São mais pessimistas do que as previsões do governo e do Banco de Portugal. Menos crescimento, mais inflação, mais défice orçamental. A excepção é no desemprego, que para o FMI será mais baixo do que nas estimativas do governo e do Banco de Portugal. O leigo pergunta: como podem diferir tanto as previsões? Estarão todos a observar o mesmo país? Haverá dados ignorados por alguma das entidades que se aventura a fazer as previsões, induzindo-as em erro? Ou algumas dessas previsões – as mais optimistas – são engodo para iludir as pessoas, um convite a redobrar a confiança no futuro, mas apenas um “wishful thinking”. E que raramente se confirma. O que é mais interessante é que, ano após ano, acabam por se aproximar mais da realidade as previsões do FMI, ou da Comissão Europeia, do que as elaboradas pelas instituições nacionais. Não será, pois, só por pirraça pessoal se disser que confio mais nas previsões do FMI. Primeiro, por maior competência técnica. Segundo, porque o distanciamento joga a seu favor. Desconfio das motivações políticas dos técnicos nacionais que manobram os modelos que resultam em previsões. Desconfio que tenham o trabalho encomendado, para satisfazerem os interesses dos políticos que os tutelam.)
Admito que a tentação de adivinhar o futuro é grande. Uma tarefa homérica, diria. Que nem a tão elevada sofisticação de modelos que usam a infalível matemática chega para obviar. É essa a beleza do futuro: a imprevisibilidade, a incerteza, os insondáveis mistérios que encerra. Os que se deitam a adivinhar o que vai acontecer são os desmancha-prazeres que revelam uma surpresa que assim o deixa de o ser. É que, ainda por cima, resvalam frequentemente para o erro, na observada percentagem das previsões que desaguam no erro. Acontece mais com os economistas, talvez por não terem o hábito diário das previsões.
É então que percebo que fiz bem em não ser economista. Eu, que tanto gozo com a astrologia, vejo uma analogia diante dos meus olhos: economistas e astrólogos atrelados na bazófia das previsões, raramente acertadas.
1 comentário:
lendo este post um ano depois de publicado, nada mudou, hahaha
Enviar um comentário