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Há aquela ideia feita, do Algarve em Agosto que é uma faixa muito estreita do território para albergar tantos indígenas e não indígenas que se acotovelam nas praias de água cálida. Aquela ideia feita dos lugares menos simpáticos, onde os hotéis e os apartamentos alugados são mais baratos, que recebem a arraia miúda (doméstica e estrangeira). Forma-se o estereótipo de um vasto Algarve mal frequentado. Das férias que, não sejam feitas de um recolhimento quase monástico à borda da piscina (se acaso houver uma, e não sobrepovoada), não se saldam pelo retemperar de forças.
Muda-se o cenário. Frequentam-se as cinco estrelas, com os luxos inerentes. Luxos que, admito o pecadilho burguês (ou apenas um – perdoável? – gosto por mordomias), ajudam à ideia de umas férias gratificantes. Os luxos podem ser coisas espúrias. As mordomias, se forem vistas à lupa, quantas vezes satisfazem primeiras necessidades? Nos últimos tempos acumulei (por razões que não interessam) alguma experiência cinco estrelas, algum tratamento VIP. Quando sou colocado em hotéis de três estrelas torço o nariz, mas as comodidades mínimas não faltam à chamada. Pode haver uma diferença no conforto, mais espaço para passear o corpo no quarto do hotel, um pequeno-almoço que – haja estômago – faz a diferença. Às vezes, mais simpatia do pessoal do hotel, até alguns excessos de atenção que se dispensavam.
Também há a diferença na clientela. É aí que entram as generalidades que preenchem o imaginário. O povo de diferentes proveniências de réditos que enche as praias e as ruas do Algarve que, contrariado, tenho que visitar na primeira quinzena de Agosto. Heterogeneidade de rendimentos que se atenua na não correlação entre berço e sinais exteriores de riqueza. Patos bravos que se passeiam ostensivamente, os sinais exteriores de riqueza não confirmados pela boçal educação. Convivem com pipis e tias das melhores linhagens mas que já não têm onde cair mortos. O nirvana para os demagógicos aduladores da democracia: as origens sociais esbatem-se no apinhado areal algarvio e nas ruas onde as pessoas se passeiam depois do lauto (ou nem tanto) jantar.
As cinco estrelas também são pródigas em retratos que rivalizam com o Algarve popularucho. Sobra a ostentação, pipis e tias cheios de nove horas e cultores da estética duvidosa. Se há lugar que confirma os sinais de má estética que povoam os anúncios do Banco Millennium (que aqui já explorei) é este. Fica tudo a combinar. Ainda por cima, apanhamos com algumas “elites” angolanas que acamparam com a prole inteira. Corro o risco de racismo, bem sei – que é, afianço, defeito que não me podem apontar – mas ver os arrogantes neocapitalistas angolanos arrancados às catacumbas do comunismo em cínica sedução aos prazeres do vil metal, encerra uma poética, divina (caso deus existisse) justiça. Que se esmaga no incómodo de os ver passear com a sobranceria das recheadas contas bancárias em afronta às inumeráveis misérias que existem de onde vêm. Sinal dos tempos: pipis e tias indígenas em amena cavaqueira com os cleptocratas angolanos.
Outra vez a duvidosa estética: vamos para a piscina e temos direito a música tocada ao vivo por um one-man-show. Diriam os pipis e as tias em perfeito deleite mental, música a condizer com o ambiente estival: muita música brasileira, aquela que se convencionou chamar “música popular brasileira”. Até ter ido ao quarto resgatar alguma decente música ao iPod, era isto que se ouvia. Aposto que os ritmos caribenhos também soaram, assim como a cálida música cubana que sempre traz recordações daquelas férias que as tias e os pipis passaram na zona.
É óbvio que o mal é meu, que ando a descompasso destas coisas normais para a gente normal. É que umas férias que precatem o recato não se compadecem nem com poluição visual, nem com poluição auditiva.
(Em Santa Eulália)
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