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(Aviso: texto que, sem ser homofóbico, é eventualmente chocante para os detractores da homofobia. Como já dei provas abundantes de que se há defeito que não me apontam é a homofobia, estou-me nas tintas se, ao esbarrarem neste texto, os detractores da homofobia me crucificarem.)
A pergunta que formulo é a seguinte: quem tem a sexualidade mal resolvida – os mitos andróginos ou as adolescentes que os endeusam?
Mandam as generalidades dizer (essa coisa tão traiçoeira) que a adolescência é uma idade parva. Temos essa percepção se, num pequeno esforço, formos ao baú das recordações. Por outro lado, os modismos são voláteis com o tempo que viaja pelo calendário. O que hoje achamos – cá do alto da nossa soberba já maturidade – ridículo ou, numa versão mais simpática, bizarro, foge desses cânones quando interiorizado pelo código de conduta dos agora adolescentes. É problemática a dialéctica das gerações. O que talvez não nos lembremos é que antes já nos tocou esta incompreensão debitada pelas que na altura eram as pessoas que agora têm a nossa idade.
Lá chega a altura em que deslizamos para a sobranceria geracional. Nem que seja uma espontânea, irreprimível escorregadela, mas chegamos lá. Nisto arrisco a adivinhar o consabido “quem atira a primeira pedra”, pois se cometermos a ousadia talvez a pedra se despenhe com estrondo sobre a própria cabeça, estilhaçando o telhado de vidro (outro lugar comum).
Entre a semântica e os tiques observáveis da adolescência actual há um aspecto que ultrapassa a compreensão: a adoração que as meninas têm por mitos masculinos que cultivam uma imagem andrógina. São aquelas adolescentes que disparam gritinhos histéricos quando os venerados ídolos estão diante delas, desempenhando no palco. Não há novidade nos gritinhos histéricos – vêm do tempo dos Beatles, mas há que convir que os Beatles podiam ser irritantes em muitos aspectos mas não tinham aparência efeminada. Ora, o que ajuizar de meninas que à frente de um qualquer microfone fazem as tristes figuras de se ajuramentarem no platónico amor eterno aos mitos que nunca chegam a ser de carne e osso, quando esse mitos mais parecem femininas criaturas? O leigo no assunto arriscaria dizer, não obstante a sua condição de leigo, que estas adolescentes navegam nas águas agitadas da sexualidade que nasceu (ou entretanto se fez) mal resolvida – ou, pelo menos, redefinida sexualidade.
Passo à teoria: nasceram meninas, cresceram habituadas (ou educadas) a gostarem do sexo oposto – toda aquele imaginário escolar de terem ingénuos namoros desde a tenra idade – para chegarem à adolescência embeiçadas por ídolos pós-adolescentes que se puseram nos antípodas da masculinidade. Ou as meninas se deixam cegar pela condição de ídolo em que entronizam os seus andróginos mitos, nem dando conta que eles mais parecem tão elas como elas o são, pois como ídolos que são tudo lhes é permitido (o que já seria motivo de chacota se esses comportamentos e figuras fossem assumidos por um comum dos mortais); ou este é o sinal de uma nova sexualidade que nelas desponta, aprendendo, através dos mitos efeminados que muito provavelmente transitam pela homossexualidade, que do que elas gostam é de outras elas.
Acho que nisto – a franqueza de não assimilar certos modismos adolescentes – há a distinção de outros contemporâneos geracionais que fazem gala de os acompanhar nesses modismos. Que me perdoem outra franqueza, mas assemelha-se-me patético esse esforçado rejuvenescimento geracional, ou pelo menos a tentativa de falarem a mesma linguagem de quem não os quer metidos nessa dialéctica. Para quem está de fora, é pungente ver o fracassado dialogo entre as vetustas personagens que aplaudem o modismo adolescente do momento e os adolescentes que para eles olham como corpos estranhos a tentarem invadir um terreno que, manifestamente, não foi feito para esses corpos. Porventura uma metáfora para outro tipo de sexualidade mal resolvida, a desta gente mais velha.
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