17.5.11

A conspiração do sexo


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Tenho um amigo que, de maneira peculiarmente indulgente para as facadinhas nos matrimónios em que a espécie masculina é pródiga no sítio onde vive, exclama: “as mulheres são o diabo. O diabo!” As hormonas fervem num caldo de excitação e há muitos homens que perdem a cabeça. Ou, se for permitida a escorregadela para linguagem menos apropriada, deixam-se conduzir pela cabeça não pensante.
De vez em quando, caldeiam-se escândalos de sexo com figurões políticos. O escândalo que dá brado é o do patrão do FMI, um sexagenário vaidoso que já andava a fazer contas para ser o próximo presidente da república em França. Era o que anunciavam as sondagens. Se Dominique Strauss-Khan (afectuosamente DSK para os amigos) não tivesse ficado com água na boca ao ver, à saída do duche, uma porventura curvilínea empregada de limpeza dobrada sobre a cama a compor os lençóis, os camaradas socialistas não estavam à beira da apoplexia.
Até ver, DSK não é culpado. A crer na prudência cirúrgica da internacional socialista, os camaradas de DSK dividem-se entre a perplexidade (“ele não pode ter feito semelhante coisa”) e a certeza de que se trata de uma cilada montada pelos adversários.
Eu inclino-me mais para teoria conspirativa. A malta da direita é capaz de tudo. É gente que nasceu com os genes da perfídia. Esses genes foram aformoseados com o desenvolvimento do intelecto. A malvada direita, tiritando de medo com a possibilidade de o Sr. Bruni perder as eleições para o vaidoso DSK, preparou uma armadilha. Consta que DSK se desorienta quando esbarra num rabo de saias. Hoje nas notícias abundavam biografias (ou, dir-se-ia, obituários?) que faziam notar que o patrão do FMI sempre foi conhecido como um “sedutor”. Já Berlusconi, outro marialva da terceira idade que perde o tino quando vê umas raparigas apetitosas, é desprezado pelos piores crimes que são umas orgias com participação de meninas ainda menores de idade (mas já com discernimento para saberem o que fazem). A internacional socialista tem a certeza (porque lhe convém) que os crimes de Berlusconi são piores do que as “actividades” imputadas a DSK. Ele há maneira mais sofisticada de virar o mundo do avesso?
DSK caiu na armadilha dos malévolos direitistas franceses. Estes untaram as mãos da empregada do hotel com avantajadas notas de dólar. Instruíram-na para a insinuação do deboche. Sabiam que as hormonas de DSK falariam mais alto. Nesta altura, os corporativos socialistas pelo mundo fora (menos as feministas convictas, mergulhadas num silêncio comprometedor) interrogam-se: como pôde a empregada entrar no quarto se o famoso DSK estava lá dentro? Cheira a esturro...E mais dirão, para salvar o rosto de um dos seus: DSK foi apanhado a sair do duche, ainda nu. A empregada confundiu-se e, incensada numa fantasia alimentada pelas muitas verdes notas que foram estacionar à sua conta bancária, imaginou o sexagenário a tentar violá-la.
Ora, como é sabido por toda a gente de bem, os socialistas são impolutos. E se, por acaso, DSK foi atraiçoado pelas hormonas galanteadoras? Podia-se extraditá-lo para a terra onde um dos patriarcas da internacional socialista já manifestou estranheza pelo episódio. É que nesta terra há uma dívida de gratidão por DSK ter mandado o FMI emprestar dinheiro a um juro mais generoso do que o empréstimo dos parceiros europeus. E nesta terra há um superavit de juízes que ilibam violadores com a justificação de que elas “estavam mesmo a pedi-las”. Por azar, DSK perdeu o juízo com um rabo arrebitado em cima cama do seu quarto de hotel logo em Nova Iorque. Lá, estas coisas não se perdoam.

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