24.5.11

Mais do mesmo


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O Público vem perguntando, desde há dias, o que esperam conceituadas personalidades depois das eleições de 5 de Junho. Em tratando-se do caso de não ser uma personalidade, e muito menos conceituado no que quer que seja, faço de conta que a pergunta me chegou à caixa de correio. Fico na dúvida entre estas duas hipóteses.
Hipótese 1: Mais do mesmo
Começo pelo título que as conceituadas personalidades escolhem para encimar a intervenção. “Mais do mesmo” dispensaria mais palavras. O texto ficava enxuto naquelas três palavras, onze caracteres. Tanto banzé para nada. Venha o que vier, haja a improbabilidade, a – há que o dizer sem peias – risível improbabilidade de os mesmos se manterem com o leme nas mãos; ou seja virada a página da consabida “alternância democrática”, que no panorama caseiro determina a ascensão da outra metade do binómio Dupont & Dupont, o que vai mudar? Nada.
Mas agora, que a trindade interventora (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) deixou as duradouras sementes de um programa que (queremos alguns acreditar) será redentor, fermenta a mudança nos interstícios da bruma? Essas sementes deixam marcas duradouras. As mãos e os pés dos que vierem agarrar o leme estão atados aos espinhos do programa redentor da trindade interventora. Invertem-se as lentes e pressagia-se: afinal, algo pode mudar. Mal por mal, ao menos que os que aí vierem estejam com margem limitada. Quem tanto mal pode fazer menos fará se mexer o menos possível nas coisas que contam. Nos dias que correm, não ficar pior é o maior dos feitos.
Hipótese 2: Road to nowhere 
A extrema-esquerda (somatório dos comunistas com a extrema-esquerda caviar) somou inesperados votos. Eles vão ser o fiel da balança. Confirmando o calibre da populaça, o fautor maior da desgraça ensacou a maioria dos votos. Uma maioria indigesta, porém: desta vez, só conseguiu enganar 27%. A extrema-esquerda exulta. Solta-se-lhes o contentamento pelos olhos. Por fim, terão ministérios na mão. Os malditos capitalistas que tiritem de medo, que os impostos vão-lhes aos bolsos em nome da justiça dos desvalidos.
O Prof. Boaventura, entronizado ministro dos negócios estrangeiros, proclamou, já sem a solenidade oficial que fora apanágio do ministério, a suspensão do serviço da dívida “até ver”. Mandou uma comissão, só de peritos da Faculdade de Economia de Coimbra, reavaliar o montante real da dívida. Há que descontar os efeitos da batota feita pelas agências de rating que queriam afundar o notável país numa espiral sem saída.
E o jovem Bernardino, empossado ministro da educação, logo se lembrou de mudar os manuais que doutrinam as criancinhas. Agora o catecismo será diferente. As criancinhas hão-de sair da escola a saber que o mundo pagou com injustiça os escombros do sonho comunista. Aprenderão que a Coreia do Norte é uma democracia vigorosa, invejável, onde se praticam as delícias da liberdade de expressão e toda a gente tira partido de um bem-estar ímpar. E o self made man Vara regressa à governação, mandando nas obras públicas.
E eu digo, se me fosse feita a pergunta dirigida aos notáveis: perante as duas hipóteses, venha o diabo e escolha.

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