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Volto ao assunto: os piropos e assobios, excrescência vomitada por uns primitivos seres masculinos quando, no auge do cio (ou não), ensaiam a atracção de espécimes do sexo oposto. A UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta) promoveu um estudo que detectou uma avalancha de casos de assédio sexual. Isto só vai ao sítio – preconiza a UMAR – se todas as formas de assédio passarem para o Código Penal. Perturbador, é a associação meter no mesmo saco “piropos, assobios, roçar ou encostar nos autocarros”.
(Uma sugestão à D. Tatiana Mendes, porta-voz do estudo: devia emprestar algum rigor à linguagem. Com que então os criminosos que entram em efervescência hormonal quando se lhes depara uma mulher curvilínea só escorregam para o crime se se roçarem ou encostarem a ela dentro de autocarros? E nos restantes transportes públicos? E se a actividade criminosa não acontecer nos transportes públicos – se for, por exemplo, na fila para o supermercado, num ajuntamento à porta de um teatro, à saída de um restaurante apinhado?)
Esta fobia feminista atormenta-me. Não ignoro o mau gosto de muitos piropos (já escutei alguns vindos de trolhas que fazem jus ao gabarito intelectual da classe), nem posso dizer que nunca me foi dado a ver um marialva encartado a sibilar, desconchavado, a uma beldade (ou não) que passa. Também fui testemunha de alguns apertos pouco inocentes de anciãos em jovens penduradas nos ferros dos autocarros que evitam as quedas a quem vai de pé. O que me inquieta é tratar a eito piropos e assobios e o contacto físico que acontece quando alguém, sórdido, se roça ou encosta numa mulher. É como se uma agressão e um insulto isolado dessem a mesma dose de cadeia.
Por este andar, qualquer dia proíbe-se a sedução por decreto. Nunca se sabe se a erupção de um piropo, mesmo que seja a uma mulher conhecida, não fermenta uma queixa apresentada na esquadra. Talvez as feministas da UMAR pretendam a extinção do engate – essa coisa tão anacrónica! As pessoas teriam de encontrar um qualquer ponto alfa que, por troca telepática, permitisse descobrir a atracção recíproca. Ninguém se arriscaria a esboçar um convite para jantar, ou um elogio à roupa envergada, ou ao emagrecimento que dita um ar mais saudável, não fossem tais palavras entendidas como rebuscadas formas de piropo. E – quem sabe? – se um cientista criativo seria recompensado por descobrir o silenciamento dos assobios que há em nós. Por este andar, qualquer dia não faltam propostas para a castração dos destemidos que teimarem no piropo e no assobio.
Tenho cá a desconfiança que estas mulheres da UMAR têm um problema de identificação. Tiro daqui os piropos grotescos, que são ofensivos, e retenho aqueles que convocam a verve e a imaginação. Haverá mulher, por assim dizer (sem ninguém ofender), “normal” que não sinta o ego dilatado ao receber um piropo elogioso e imaginativo? Quantos namoros nunca o teriam sido sem o lubrificante do piropo?
Tenho cá outra desconfiança: estas mulheres da UMAR são umas frígidas.
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