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Dava um tratado, e dos longos, a (pobre) semântica dos marxistas, leninistas, trotskistas e companhia. O castiço desfile de sindicalistas, militantes, simpatizantes e gente engajada no festival das revoluções que prometem os amanhãs radiosos é distrate da pobreza semântica.
O que mais me comove é a mobilização para a “luta”. Eles prometem luta contra as injustiças grotescas, habitualmente fomentadas por hediondos capitalistas que espezinham as massas oprimidas. Num cortejo de opressões intermináveis. Os salários são a expressão das iniquidades. Mesmo quando sobem, deviam crescer mais. Vem na cartilha marxista: os capitalistas apropriam-se da força braçal, os seus lucros são determinados pela diligência de quem trabalha. Os lucros deviam ser socializados. A prova do egoísmo dos capitalistas é que eles açambarcam os lucros e só deixam migalhas para os operários. Parafraseando o famoso cantor de intervenção: “eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada”.
A “luta” causa-me fastio. Talvez isto explique as pessoais desavenças com estas cartilhas totalitárias. Sendo totalitárias, chegava para me deixar nos seus antípodas. Mas há esta componente lutadora, bélica por natureza, que desata náuseas irremediáveis. É que sou um antibelicista genético. Não me confundo com os arremedos de pacifismo que às vezes são vicejados pelos abencerragens que militam nestas franjas, que esse pacifismo nasceu enviesado. Quando me ponho a pensar na semântica repetitiva, na promessa de luta contra as terríveis iniquidades promovidas pelo “grande capital”, não me saem da cabeça aqueles dementes que se soltam, desenfreados, rumo a uma peleja, uma peleja qualquer – e que só estão bem a partir cabeças e a deitar os costados numa maca do hospital, à espera de serem suturados por causa de um golpe aberto por uma cadeira escaqueirada na moleirinha.
Falo de cor: agora entendo por que triunfavam nas olimpíadas, na luta greco-romana, os atletas dos países comunistas. O catecismo ideológico estava emprenhado com a palavra “luta”. Entre nós devem vegetar muitos sindicalistas e promitentes aliados das lutas contra todas as injustiças do “sistema” que fariam melhor figura se, nos tempos da áurea juventude, tivessem enveredado pela luta greco-romana.
Deve ser árdua a existência dos camaradas. É como se cada dia fosse uma labuta homérica e intransigente contra as águas que arremetem contra os seus corpos com uma virulência sórdida. A água esbarra-se, cruel, contra os seus rostos que, todavia, não declinam perante a – lá está – luta. A vitória é adquirida. Pode tardar, como tem tardado. A má fortuna recente testemunha o recuo dos fautores das lutas justas contra os síndicos do nefando capital. Não perdem a esperança que outras alvoradas sorrirão, mais radiosas, mais justas. O que depois farão aos capitalistas a rebate, não interessa (que às vezes, a justiça desliza por caminhos esconsos). Algum dia a madrugada despontará com o perfume da prometida justiça social. A rimar com uma sentença do Rui Tavares dos imperativos categóricos:
Mal de mim, que nem assim consigo ser de “esquerda”.
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