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E se um filme tivesse um ciclo de vida ao contrário
– se ele começasse no fim e recambiasse a película em recuado passo? E se
soubéssemos tudo acerca do porvir que nunca chegaria a ser e nada sobre o tempo
gasto? Seria como se avançássemos pelo tempo já gasto e nós, embrulhados na
penumbra imemorial, tateássemos esse tempo. O único tempo conhecido que, porém,
ia sendo aprendido enquanto o filme rebobinava da frente para trás.
Reminiscências, talvez.
A árvore entroncando fundo na fértil planície seria
o bilhete postal do tempo no seu contraciclo. Minguava à medida que os sóis se
punham detrás do horizonte hipotecado pelas cores rubras do ocaso. Minguava
enquanto as estações passavam em mão o testemunho do arbítrio do tempo enclausurado
em seu calendário alindado. E a árvore despojava-se de folhas quando a
primavera arrimava, exibia exuberante folhagem quando o outono se anunciava.
Por este canto escondido de um tempo alternativo,
envelhecíamos ao contrário. Os anos tinham uma contagem decrescente. Haveria um
segredo qualquer, um acidente cósmico porventura, a ditar a marcha desbotada do
tempo. Ou um sonho, talvez apenas um sono, o corpo vestido de branco a entrar
numa arena, assustado com a audiência toda vestida de negro. E assim que o
corpo levantou a poeira no lugar onde outrora gladiadores romanos lutaram com
bestas esfaimadas, as pessoas sem rosto desfaziam-se dos mantos negros e
retiravam-se das bancadas em passo recuado.
Por fim, ao cabo de extenuante jornada em que
víramos o tempo sorvido por um buraco negro, já não havia mais película do
filme à espera de rebobinagem. O chão, que nunca fora um tapete suave, de
repente desaparecera debaixo dos pés. O tempo chegava ao seu fim quando o
recém-nascido decantava a espessura da luz ao ser retirado ao ventre materno.
Os pés, de tanto sangrarem, já nem sentiam as dores das pedras pontiagudas que
foram leito do chão tormentoso. Anestesiados, abençoaram o precipício.
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