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O
outrora todo-poderoso, o homem que tinha orgulho em ter sob alçada governos que
faziam vénia à sua passagem, esperava pela resposta ao seu repto. Queria saber
se tinha serventia para os revoltosos que, mandavam dizer pelas notícias,
queriam contagiar a revolta a outros lugares ainda contaminados pelo putrefacto
capitalismo. Desconfiava que a sobrevivência dependia de o aceitarem. Outra vez
como conselheiro. E sabia que desta vez, por passar para o outro lado da
barricada, tinha de ir com humildade. Mentalizara-se que a sobranceria do
credor, misturada com a autoridade intelectual de que nunca se desprendera,
tinha de ser obliterada.
À mesma
hora, um magnata fazia planos com o reduzido séquito que continuara fiel. A
maior parte desertara. Alguns, traidores, passaram segredos para os revoltosos.
Contas bancárias ficaram congeladas. Tinha propriedades confiscadas, automóveis
vandalizados, obras de arte criminosamente em bolandas nas mãos
desconhecedoras. Já sabia que o seu banco deixaria de ser seu num abrir e
fechar de olhos. As nacionalizações estavam a fazer caminho. Com a pressa que
os revolucionários tinham, era uma questão de dias, poucos dias, até o banco ser
do povo. Já estava preparado para a hipótese de a sua abastança se delapidar quando
os tumultos desaguassem em revolução. Prudente, tinha um plano B na manga. Nas
últimas semanas colocara o que pôde lá fora. Não foi tudo, mas ainda foi muito.
A sua
apoplexia era diferente. Chegavam ao ouvido episódios grotescos. Havia caça aos
magnatas. Milícias com sede de vingança, apontando as baionetas aos ricaços
que, julgados em pose sumária, eram culpados da espiral que encostou o país ao
precipício. Alguns magnatas foram capturados. Sovados em praça pública antes de
darem com os ossos em imundos cárceres. Este magnata andava clandestino,
disfarçado em carros podres, usando roupas andrajosas, rodeado pelos poucos
seguranças que se mantinham leais. Dormiam ao relento, no meio dos bosques
desertos. Sem deixarem rasto.
Tinham,
o magnata e o séquito, uma dor de cabeça: qual era o plano, o plano que tinha
de ser perfeito, para deixar de vez aquela terra.
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