28.2.12

Não havia lei da selva (capítulo XIII)


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Afinal a propaganda importava. Afinal, os revolucionários já não tinham aversão à propaganda. Em sua defesa, esgrimiam argumento indestrutível: ao menos esta propaganda está ao serviço de causas que favorecem o povo. Não podia ser mentirosa. Mesmo quando mentia: Por vezes, os fins justificam os meios.
Por aqueles tempos em que mal tinha assentado a poeira da revolução, as chefias e os pensadores esboçaram uma prioridade: convencer o mundo inteiro, e a começar os próprios patrícios, que a normalidade tinha aterrado. Não houvera resistência de quem foi deposto do poder. Os militares logo se alistaram no imenso exército de gente assoberbada pela indignação contra os fascistas do capital. Não houve sangue derramado. Nem tiros disparados. As vésperas foram de violência atroz: pertences incendiados sem critério, lojas saqueadas e depois ateadas com petróleo incensado, bárbaras agressões aos poucos aduladores do regime em estertor. Mas isso fora a voz da revolta, gritada a plenos pulmões, a voz incapaz de aguentar as contínuas aleivosias dos banqueiros, dos capitalistas que teimavam no consumo ostensivamente ofensivo.
Agora estava tudo nas baias da normalidade. Os malévolos saqueadores da riqueza do povo tinham fugido para o estrangeiro. Só alguns foram metidos em cárceres. Era preciso convencer o mundo inteiro da normalidade. Ou a maré revolucionária não conseguia aportar noutras terras.
A propaganda escondia, debaixo do seu véu amotinado, um mar de sangue. Em tresloucada vingança, os poucos magnatas apanhados antes de zarparem foram vítimas da barbárie. O povo queria a justiça nas suas mãos, nas praças públicas. As chefias, tementes do efeito devastador, mandaram calar a populaça. Em surdina, prometeram que a justiça seria feita como o povo queria. Mas sem os holofotes da imprensa. Garantiram que os julgamentos seriam exemplares. E eram. Julgamentos expeditos, sem direito de defesa (a não ser por uns neófitos advogados sem experiência). Sem direito a apelo para tribunal superior, que o tribunal popular nascido do nada era o tribunal arvorado em sua majestosa superioridade. As sentenças eram cruéis. Os magnatas e alguns ministros e conselheiros descobertos a tempo, liquidados com requintes de malvadez no dia da sentença.
A propaganda escondia estes vícios privados dos olhos do mundo inteiro.

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