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Eram rosas perfumadas, as rosas remoçadas pelo
tempo que dobrou as escarpas de outrora. Era como se todas as alvoradas fossem
um altar onde as crisálidas se abriam, sorridentes, festejando outro dia. Os
dias iam uns atrás dos outros neste corrupio de promessas. O bom povo acreditava.
A cada amanhecer que crescia em fulgurante exibição de claridade, o bom povo
refrescava o sorriso. Podia não haver dinheiro, como dantes. Podiam escassear
os alimentos, a fome espreitar entre as dobradiças do futuro. Mas o bom povo
sabia que o porvir era um lampejo de claridade. Os dias de lá só podiam vir
debruados a ouro. Um refrigério.
Os meses juntavam-se num punhado sem que as pessoas
sentissem o quotidiano a mudar de
penugem. Às vezes, não havia dinheiro para os salários a tempo. Os alimentos
ora rareavam nos mercados, ora apareciam a preços próprios para magnatas. Mas
estes tinham desertado. As suas posses estavam ao deus-dará. Açambarcadas por
quem lá tivesse chegado primeiro. Os salteadores faziam riqueza inesperada com
o soldo das pilhagens. Especulavam. Os líderes da revolução davam prédicas
moralistas na televisão. Ensinavam as virtudes da ausência de lucro. Não eram
coerentes os que tinham andado a vociferar nas ruas e agora se locupletavam com
bens alheios. Repetiam os apelos: que o povo não se apropriasse dos bens dos
ricaços covardes; deviam ser devolvidos à posse do Estado, que o Estado estava
à míngua de recursos.
A retórica para consumo interno era louvaminhas do
oásis. Nem que fosse para convencer os incautos que a revolução fora
terapêutica. Os desafios eram uma empreitada e tanto: tinham de trazer
felicidade ao povo por tanto tempo enganado pelos melífluos capitalistas. (Riscaram
da retórica o capitalista conceito de “bem-estar”.) A economia não corria de
feição. E o bom povo, cansado dos dias a eito, do punhado de meses sem mudança de
horizonte, começou a desconfiar. Os sorrisos esbateram-se, amareleceram ao
princípio. Depressa foram banidos pelo desalento.
Foi então que o líder supremo veio à televisão
mandar justificações: a culpa era da conspiração dos países que teimavam no
capitalismo. Tementes do êxito da revolução, queriam-na desfazer pela base. E
puseram o país à míngua.
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