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Submerso
na banheira, longos os minutos de inércia. Tantos que a água estava um espelho
chão a abraçar o corpo tépido. O vapor circundante adelgaçava a penumbra que se
deitava sobre as pálpebras. Sentiu o torpor que vem do chamamento do sono quando
o dilema berra aos sentidos e eles sem saberem se a coreografia de pensamentos
é apenas o regaço do sono ou um viveiro de veracidades.
Moveu
uma perna, a perna que adornava na dormência. As ondas que se levantaram,
descompondo a simetria da espuma, bolçaram a alvorada de sonhos que queriam levitar
no vapor viperino. Os outros pensamentos, os que sobram da introspeção que os
derradeiros dias adestraram, povoaram o espaço em redor. Tingindo o vapor com
as cores dos enigmas que locupletaram o pensamento, acanhando a ação. Tivera
dias resolutos; saíra de casa convencido da necessidade da ação. Já sobravam
arrependimentos encavalitados nos calendários devolvidos à reciclagem do tempo.
Já sobravam as angústias pelos desapiedados atos que custaram tantas lágrimas
vertidas, incineradas lágrimas. Mas as resoluções intimidavam-se com as horas
que subiam no horizonte. Assim que o sol enchia o céu, a cabeça mergulhava em
seus enigmas irresolúveis. Os dias eram um adiamento. As ações, esboços de
intenções.
Quisera-se
convencer que não era madraço. Não curava de separar as poeiras para encontrar
o ouro que seria promessa para um porvir qualquer. Os freios não se intimidavam
com as resoluções. Derrotavam-nas. No fim de contas, eram as peias que se
perpetuavam. E ainda assim convencera-se que não era traidor de si mesmo. Nunca
capitulara, mesmo quando de fora todos os desinteressados observadores não
hesitavam ao afiançá-lo de tal desdita. Pacientemente, retorquia que estava
embebido no banho-maria que apascenta a lucidez.
E o
banho-maria, como se fosse uma hibernação autoimposta, era o tirocínio da
madurez.
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