27.2.12

A doutrinação das massas (capítulo XII)


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Antes do imperialismo saudável que viria romper com o monoteísmo capitalista, antes da exportação da causa para outros lugares, impunha-se assegurar a fidelidade das massas. À partida, não era tarefa árdua. A revolução começara nas ruas. Os amotinados eram o retrato da heterogeneidade, cortando a eito nas gerações e até nas condições sociais. As pessoas que andaram a lutar contra a maniqueísta ordem policial viveram dias felizes, aqueles dias em que ateavam incêndios contra a opressão de um sistema senescente. À última hora, a deposição do poder fora tão ágil como um sopro flácido num baralho de cartas. Num ápice, o regime dos corruptos desmoronou-se. Quando os revoltosos deram conta, tanta a facilidade em tomar de assalto os ministérios e os quartéis, a corja de bandidos tinha-se exilado. A tempo. Poucos ficaram para o necessário julgamento popular.
E, todavia, os arquitetos da revolução, em não sendo destituídos de faculdades mentais, souberam congeminar a conservação do poder. As massas haveriam de receber instrução. Dos bons livros, que acusavam os atropelos do grande capital, a perfídia dos banqueiros, a orquestração dos políticos a soldo dos interesses sem rosto visível. Era preciso ensinar às massas que elas eram soberanas: tinham o poder na mão, podiam ensaiar propostas nas assembleias populares, organizadas ou espontâneas. Tudo se faria de harmonia com a vontade do povo.
Não se podia era admitir que nos bastidores, antes do bom povo achar que tinha a última palavra, personagens infiltradas pelo poder manobravam na sombra. Mexiam os cordéis para se decidir o que convinha ser decidido. As verdades inconsequentes e as que não soassem convenientes deviam ser obliteradas. Não fosse o povo, sobretudo o possuidor de apurado faro de justeza, estranhar a denegação. Os melhores peritos de comunicação foram requisitados. Tinham uma função: pintar uma tela com as cores paradisíacas para alimentar a consciência revolucionária do bom povo. Os que quisessem dissidir tinham as fronteiras abertas. Com sinal de saída, apenas.
E depois, só depois, quando os alicerces da revolução estivessem entranhados, os camaradas de outros lugares podiam contar com a sua parcimoniosa ajuda. A revolução ia a caminho da universalidade. 

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