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Antes do imperialismo saudável que viria romper com
o monoteísmo capitalista, antes da exportação da causa para outros lugares,
impunha-se assegurar a fidelidade das massas. À partida, não era tarefa árdua.
A revolução começara nas ruas. Os amotinados eram o retrato da heterogeneidade,
cortando a eito nas gerações e até nas condições sociais. As pessoas que
andaram a lutar contra a maniqueísta ordem policial viveram dias felizes,
aqueles dias em que ateavam incêndios contra a opressão de um sistema
senescente. À última hora, a deposição do poder fora tão ágil como um sopro
flácido num baralho de cartas. Num ápice, o regime dos corruptos desmoronou-se.
Quando os revoltosos deram conta, tanta a facilidade em tomar de assalto os
ministérios e os quartéis, a corja de bandidos tinha-se exilado. A tempo.
Poucos ficaram para o necessário julgamento popular.
E, todavia, os arquitetos da revolução, em não
sendo destituídos de faculdades mentais, souberam congeminar a conservação do
poder. As massas haveriam de receber instrução. Dos bons livros, que acusavam
os atropelos do grande capital, a perfídia dos banqueiros, a orquestração dos
políticos a soldo dos interesses sem rosto visível. Era preciso ensinar às
massas que elas eram soberanas: tinham o poder na mão, podiam ensaiar propostas
nas assembleias populares, organizadas ou espontâneas. Tudo se faria de
harmonia com a vontade do povo.
Não se podia era admitir que nos bastidores, antes
do bom povo achar que tinha a última palavra, personagens infiltradas pelo
poder manobravam na sombra. Mexiam os cordéis para se decidir o que convinha
ser decidido. As verdades inconsequentes e as que não soassem convenientes
deviam ser obliteradas. Não fosse o povo, sobretudo o possuidor de apurado faro
de justeza, estranhar a denegação. Os melhores peritos de comunicação foram
requisitados. Tinham uma função: pintar uma tela com as cores paradisíacas para
alimentar a consciência revolucionária do bom povo. Os que quisessem dissidir
tinham as fronteiras abertas. Com sinal de saída, apenas.
E depois, só depois, quando os alicerces da
revolução estivessem entranhados, os camaradas de outros lugares podiam contar
com a sua parcimoniosa ajuda. A revolução ia a caminho da universalidade.
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