10.2.12

Já não há resgate e os mercados entraram em pânico


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Fracassou tudo. Já não terminaram as negociações. No dia aprazado, só a sorumbática delegação do país à beira da falência chegou a horas. Da delegação dos negociadores internacionais, só se sabia do atraso em dilatação. Quando passou da meia hora, e depois quando beijou o limiar da hora, a inquietação cresceu. Que se passara para gente tão pontual, metódica e disciplinada, estar atrasada? Arrependeram-se de consumar o salvífico empréstimo? Seria uma desgraça.
Já estava mais gente na sala. Gente que ali não estaria se o atraso não desatasse a apoplexia coletiva. Os telefones não paravam de ser percutidos. As baterias dos telemóveis mostravam a finitude. Nem sinal de vivalma do hotel onde estavam hospedados os futuros credores. Os serviços secretos já estavam no terreno. Na recepção do hotel juravam a pés juntos, perante a desconfortável insistência dos agentes mal disfarçados, que não tinham visto entrar os negociadores. Era oficial. Tinham passado a noite fora. O pânico era já ali.
O caso passava a ser de polícia. Os ministros e acólitos estavam abatidos no lugar onde seria a reunião. Uns roíam as unhas, incrédulos. Outros aliviavam o nó da gravata à medida que o suor encharcava camisas (e era inverno). Tudo piorava com a contagem do tempo. Nem notícias dos salvadores e, para piorar, fuga de informação. A imprensa já tomara conhecimento do sucedido. Apressou-se a não guardar segredo e fez as parangonas do momento. O pânico era já uma onda gigante, imparável. Num ápice, os mercados berraram a sua histeria.
Ao fim do dia, e só ao fim do dia, a diligente polícia conseguiu montar as peças do puzzle (para infortúnio dos pesarosos serviços secretos, que andaram todo o dia a fazer o papel de baratas tontas). Uns extremistas disfarçados de gente de bem convenceram os estrangeiros à boémia. Não se sabe se foi à custa de hipnose, ou de uma qualquer magia negra que os arrebatou. Alambazaram-se com um lauto manjar de iguarias locais. Beberam dos melhores vinhos. Saciaram-se noutras guloseimas – daquelas que dão préstimo aos instintos carnais. No dia seguinte, já a tarde se metera pelo dia dentro, acordaram atordoados. E amordaçados. Sem saberem onde estavam.
Os negociadores caíram numa cilada. Os extremistas sequestraram o resgate. E o país entrara em colapso.

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