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Fracassou
tudo. Já não terminaram as negociações. No dia aprazado, só a sorumbática
delegação do país à beira da falência chegou a horas. Da delegação dos
negociadores internacionais, só se sabia do atraso em dilatação. Quando passou
da meia hora, e depois quando beijou o limiar da hora, a inquietação cresceu.
Que se passara para gente tão pontual, metódica e disciplinada, estar atrasada?
Arrependeram-se de consumar o salvífico empréstimo? Seria uma desgraça.
Já
estava mais gente na sala. Gente que ali não estaria se o atraso não desatasse
a apoplexia coletiva. Os telefones não paravam de ser percutidos. As baterias
dos telemóveis mostravam a finitude. Nem sinal de vivalma do hotel onde estavam
hospedados os futuros credores. Os serviços secretos já estavam no terreno. Na
recepção do hotel juravam a pés juntos, perante a desconfortável insistência
dos agentes mal disfarçados, que não tinham visto entrar os negociadores. Era
oficial. Tinham passado a noite fora. O pânico era já ali.
O caso
passava a ser de polícia. Os ministros e acólitos estavam abatidos no lugar
onde seria a reunião. Uns roíam as unhas, incrédulos. Outros aliviavam o nó da
gravata à medida que o suor encharcava camisas (e era inverno). Tudo piorava
com a contagem do tempo. Nem notícias dos salvadores e, para piorar, fuga de
informação. A imprensa já tomara conhecimento do sucedido. Apressou-se a não
guardar segredo e fez as parangonas do momento. O pânico era já uma onda
gigante, imparável. Num ápice, os mercados berraram a sua histeria.
Ao fim
do dia, e só ao fim do dia, a diligente polícia conseguiu montar as peças do
puzzle (para infortúnio dos pesarosos serviços secretos, que andaram todo o dia
a fazer o papel de baratas tontas). Uns extremistas disfarçados de gente de bem
convenceram os estrangeiros à boémia. Não se sabe se foi à custa de hipnose, ou
de uma qualquer magia negra que os arrebatou. Alambazaram-se com um lauto
manjar de iguarias locais. Beberam dos melhores vinhos. Saciaram-se noutras
guloseimas – daquelas que dão préstimo aos instintos carnais. No dia seguinte, já
a tarde se metera pelo dia dentro, acordaram atordoados. E amordaçados. Sem
saberem onde estavam.
Os
negociadores caíram numa cilada. Os extremistas sequestraram o resgate. E o
país entrara em colapso.
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