https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSD4-1AmtVty3KT1EH434bhPmCisnWBI0ZmagWbySOl3R81Aht55sSKlwsjivfgJPQusUfNolKkbGsx2EIIYUpb60CEIXPCFknZ1Fe3APZu26djtlnHJX9GYv0G6mGcpqjkjv5/s1600/cortesia.jpg
A
conversa com o líder da revolução foi cordata, minuciosa, técnica como o
negociador internacional tresmalhado sempre gostou. Era o seu terreno. Ficou
atónito com o à vontade do interlocutor. Às vezes, dava uns passos em falso na
argumentação técnica, mas era conhecedor. A certa altura, já algum do gelo
tinha esbatido, perguntou de onde vinha toda aquela bagagem.
- Sabe, nós também tiramos doutoramentos em
universidades inglesas e americanas.
Ainda
quis perguntar como podia defender ideias tão diferentes das que cultivou no
tirocínio por uma universidade (inglesa ou americana). Receou que a ousadia
fosse mal interpretada. Não queria que a interrogação soasse a um recuo, ele
que jurara a pés juntos a conversão à nova ideologia que pretendia banir o
capitalismo e devolver a liberdade e a dignidade aos povos massacrados.
Perspicaz, o líder antecipou a pergunta que estava castrada algures no meio do
temor reverencial:
- Eu sei que isto faz-lhe confusão. Mas não
devia. O senhor também se converteu às nossas ideias. Mas isso não vem ao caso.
Satisfaço-lhe a curiosidade: aprendi a cartilha toda dos ideólogos do
capitalismo. Não demorei a transitar pelos seus antípodas. O senhor demorou.
Mas ainda vem a tempo.
Sentiu
algum escárnio escondido entre os dentes desta hospitalidade. Mas como havia
muita informação que garantia a alforria, logo indagou que utilidade podia ter.
- Queremos saber tudo o que é escondido pelos
fascistas do capital. Queremos saber os segredos que guardam em concubinato com
o poder corrupto. Queremos usar essa informação para tirar a máscara ao poder
que é serventuário do grande capital, em continuada traição ao bom povo.
Foi uma
tarde inteira. E depois do jantar (como já sentia falta de uma refeição
opípara), a prestação de contas entrou pela madrugada. O chefe supremo da
revolução, acolitado por uns economistas muito jovens, recolheu todos os
segredos que haveriam de implodir os alicerces do aziago capitalismo.
Deitou-se, já a alvorada espreitava entre a noite em deposição. Cansado.
Acreditava – ou queria acreditar – que tinha cumprido um dever. Ao menos safara
a pele.
No dia
seguinte tinha de se aprumar para aparecer na televisão ao lado do chefe da
revolução. O mundo inteiro ia travar conhecimento da sua nova função. Os
banqueiros e os políticos medrosos até teriam de soltar o nó da gravata, tão
borrados de medo.
Sem comentários:
Enviar um comentário