Tantos loiros e de olhos azuis por mero quadrado. Gente grande, robusta, de passo largo e pesado. Numa terra com tanta água (o Báltico que a banha e os muitos lagos espalhados pela geografia), seria se admirar que aqui não se metesse água e a gente tivesse de andar de galochas. Mas é ao contrário. Porventura haverá um truque da genética, sem escorregar para o higienismo perigoso de outrora, pois de tanta gente loira e de olhos azuis com destreza para não meter água, esta terra é exemplo de organização. Não há ostentação nas obras públicas, que combinam um certo traço espartano com a assinatura de autor de uma famosa escola de arquitetos. Afinal, os dinheiros da Europa podem provocar efeitos danosos. A Finlândia não lhes meteu a unha e não deixou de ser exemplar ao gerir o erário público. Faz lembrar outros, descendo para o sul da geografia europeia; faz lembrar pela antítese que são. Não se ignorem idiossincrasias, o lastro cultural, que estes nórdicos foram permeáveis à disciplina monástica da religião (e ao pavor, durante décadas, do gigante soviético que mantinha indiscreta vigilância). Se calhar pode não ter a ver com a genética e a abundância de loiros com olhos azuis ser um acidente da natureza. Quando estamos com a corda à garganta, tanto dá a cor da tez como dos olhos: o engenho vem à tona, com uma mãozinha da criatividade que pulsa nas veias para dobrar imponderáveis que aparecem pela frente. Sempre tive admiração pelas gentes que conseguem sobrevier nos lugares inóspitos, dando, ainda por cima, uma lição aos que habitam lugares prazenteiros. Dizem que sofrem um revés e são grandes e gordos e de uma desmaiada tez que se faz acompanhar por olhos que, de tão azuis, têm a inexpressividade da água destilada. E eu digo que este racismo de belezas é de uma inveja atroz.
(Em Tampere, Finlândia)
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