In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwr33UeqcKeWPLyn9cU1COVt7v43BKph6RnvdhwCA39EvU_t_nWbBVWIVQPWYOStJRcAonEM8jP13DTE_cyXeGLRmUlkZEriHlYVDS5BFkpot9T6EC2mEXYd-kaGIzMe_WPUADsQ/s400/putas-ao-poder_portugal_porreiro.jpg
Porque fazem o que lhes apetece,
têm a faca e o queijo e são eles que cortam como querem. Porque se deixam
seduzir por interesses, inclinando o tabuleiro das decisões. Porque as suas
mãezinhas são vilipendiadas, injustamente ultrajadas. Hoje, que a populaça
quase em uníssono (se as manifestações de anteontem forem critério de alguma
coisa) destila ira contra os políticos que desfazem sonhos de uma assentada só,
a classe põe-se a jeito dos impropérios de variada jaez. Da amostra de
fotografias das manifestações, os cartazes obedecem aos pregões devolvidos pela
criatividade de quem os inventou. Há insultos, ministros tratados por tu, tremenda
falta de respeito por governantes, outros que o foram e ainda outros que
aspiram vir a sê-lo. É como os árbitros, renegados pelos espetadores de um
jogo; os árbitros são vítimas da iracunda exacerbação dos adeptos. Muito se
protesta nas bancadas dos estádios, com um cortejo abundante de impropérios que
deixaria no limiar da demência qualquer alma mais sensível. Quando a crise
morde no pescoço há irritabilidade à flor da pele. O escárnio, as palavras
malsãs, as ofensas e os ultrajes da classe política são causa e têm um efeito.
Causa, porque a classe política trouxe-nos a este estado comatoso. Mas também
um efeito: já poucos respeitam quem entra para a política e acaba sentado no
férreo cadeirão de um poder qualquer. Em havendo falta de respeito, quem assim
se porta semeia mais reações desabridas. Se nem quem nos governa respeitamos,
qual é a serventia do poder político, dos governos, dos parlamentos? O pior é
imaginar um político a querer sossegadamente passear, a ser abordado a meio do
pensamento e expor-se a comentários desagradáveis de um transeunte, ou até
agressões. Já nem podem sair à rua. Percebo agora por que tantos notáveis,
sempre na lista de espera para atingirem o estrelato do governo, decaem na
ideia ao anteciparem os insultos quotidianos. Ele há melhor receita para a
insónia?
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