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(Em modo de escuta: Lou Reed,
“Vanishing Act”)
O tempo não se engana. Quando os
olhos se embaciam nas águas tumultuosas que o foram, mandam-se os olhos fechar.
Esperando pela moderação da posteridade. Mandamos dizer que temos saudades do
futuro. Mas as saudades são como as mãos que se desgastam dentro de água, como
se por dentro dela viessem os bálsamos que cicatrizam. As saudades são o esbanjamento
do tempo corrente. É por isso que extraímos tudo dos dias, das horas, dos
minutos todos, como se dos amanhãs não houvesse notícia. Diriam, os que de fora
julgassem a demência do nosso juízo, que somos sôfregos com o porvir.
Retorquimos que não – ou, anuímos, num laivo de provocação, que as veias que
pulsam em uníssono ditam que os minutos, todos os minutos, sejam a consagração
da sofreguidão com que são exauridos. Exauridos, é a palavra certa. Ao vermos
um pôr-do-sol singular por dentro dos olhos que se depõem nas mãos, sabemos que
eles olham com o desprendimento que não se revê em palavras. À noite, pela
manhã, ao entardecer, juntos ou com uma parede de distância pelo meio, sempre
com a lua por testemunha. Como se a lua fosse um sacerdote que, lá do infinito
céu escuro onde se encima, adestra os olhos que se enlaçam. As mãos sucedem-se
na pele aveludada, ensaiam desenhos aleatórios. Entrelaçam-se na conspiração
dos sentidos. Que, por sua vez, se viram para dentro e tecem a casa maior que é
um segredo que guardamos. Percutem, os dedos, as baias por onde navegam as
almas. São altares onde decaem os sentidos que mergulham nos olhos imorredoiros.
As palavras que se amontoam são pequenos monumentos, uma amostra das águas
mansas por onde desliza o tempo de que somos tutores. Sôfrego ou lânguido, o
tempo – não importa. Desde que seja por dentro dos olhos nossos e com eles como
nutriente.
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