13.9.12

Do direito metódico à discordância


"Venham, não tenham medo de discordar", Rui Tavares, in Público de 12.09.12

E podemos discordar da discordância sem concordar com os que motivam a discordância de que se discorda?
Os governos não precisam de ser inteligentes. Não precisam de acólitos ou de advogados de defesa quando estão seguros da política que seguem. Não é esse o papel das linhas que se seguem. Isto para traduzir a perplexidade de quem não se revê no doentio sequestro dos proventos do trabalho sem alinhar no folclore que se vai pôr no sábado, quando o prometido-mundo-quase-todo meter os corpos à manifestação contra a pavorosa manápula do fisco que ataca alarvemente. Descontada uma recusa inicial, metódica, em fazer número em manifestações que tomam conta da rua e entoam pregões inflamados, as más companhias não têm serventia. Dir-me-ão que sou prisioneiro de um preconceito, um dogmatismo que impede dar o braço às esquerdas que se distinguem na baderna de rua. E quem não tem direito aos seus preconceitos? Ao menos admito este: prefiro não andar mal acompanhado. E se acaso faz que num dia haja semelhança de opiniões, que não passe de um acaso saído do forno das circunstâncias. O que têm para oferecer contra o que protestam? Posso estar enganado, mas enquanto tal não mo for demonstrado, pé atrás com as soluções e os meios para a elas chegar. E há sempre o carneirismo militante que se encena quando o discurso revisto a duas mãos, ungido pelo maná da pós-pós-modernidade, embelezado pelos títeres modernaços e ainda jovens que o empregam, escorrega para o doce maniqueísmo. A frase que dá o mote a este texto é um programa de intenções. Ter medo é uma castração. A libertação, segundo a apostilha de Rui Tavares, faz a sua síntese numa das manifestações convocadas para sábado. Lamento, a epifania dos sublevados não é de comparência obrigatória.
(Em Helsínquia, Finlândia)

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