3.9.12

O perfecionismo é uma armadilha


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A frase não saía da cabeça: “failure is not an option”. Era como um lema. Lera a frase num museu de aeronáutica em Boston, com muita memorabilia de aventuras espaciais americanas. Só lembrava a frase, pouco retera da visita ao museu. Naqueles dias, misturou o turismo próprio de quem visita lugar distante com a frase que teimava em pairar sobre os cabelos que esvoaçavam no autocarro descoberto que ajudava a descobrir a cidade, ou sobre os cabelos que repousavam na almofada à espera que o sono chegasse. A viagem de regresso, a travessia demorada sobre o Atlântico, fizera-se à noite. E a frase, aquela frase que julgara ser um resumo da passagem pela vida até então testemunhada, demorava-se sobre os horizontes do pensamento. A certa altura, ainda o jet stream atlântico punha o avião em avanço sobre o horário, e a frase começou a ecoar na retrospetiva que veio em modo de insónia. “Failure in not an option”, vezes e vezes sem conta, enquanto ia ao passado resgatar o que fora, como fora. Talvez fosse prisioneiro em sua reclusão. Do seu implacável sentido de exigência. Da mania que tudo tinha de ser perfeito, mesmo que soubesse (ou lhe tivessem ensinado) que a perfeição está ungida pelos dedos divinos. E repetia, uma e outra, as vezes que fossem precisas, as ações como se elas viessem perfumadas pela aurora onde se escondiam, em forma de segredo bem guardado, as pétalas da perfeição. Era a sua tirania interior, esse irreprimível desejo de arcar com o perfecionismo como se a imperfeição humana não lhe coubesse em sorte. Provar o sabor azedo das decepções era a dor maior, o peculato da imperfeição não admitida. Lambia as decepções nas feridas abertas pela estrondosa realidade que desabava debaixo dos pés, quando dava conta que o perfecionismo era maleita que ainda ia a tempo de corrigir. Até lá, teimava na frase do museu de aeronáutica. A frase que era túmulo da sua ansiedade. Precisava de apagar a frase da memória. Só faltava saber como pôr a memória a coberto da tirania do perfecionismo. O tempo, em seu prometido porvir, seria prova dos nove.

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