In http://www.crecimiento-y-bienestar-emocional.com/images/perfeccionismo.jpg
A frase não saía da cabeça: “failure is not an option”. Era como um lema. Lera a frase num museu
de aeronáutica em Boston, com muita memorabilia
de aventuras espaciais americanas. Só lembrava a frase, pouco retera da visita
ao museu. Naqueles dias, misturou o turismo próprio de quem visita lugar
distante com a frase que teimava em pairar sobre os cabelos que esvoaçavam no
autocarro descoberto que ajudava a descobrir a cidade, ou sobre os cabelos que
repousavam na almofada à espera que o sono chegasse. A viagem de regresso, a
travessia demorada sobre o Atlântico, fizera-se à noite. E a frase, aquela
frase que julgara ser um resumo da passagem pela vida até então testemunhada,
demorava-se sobre os horizontes do pensamento. A certa altura, ainda o jet stream
atlântico punha o avião em avanço sobre o horário, e a frase começou a ecoar na
retrospetiva que veio em modo de insónia. “Failure in not an option”,
vezes e vezes sem conta, enquanto ia ao passado resgatar o que fora, como fora.
Talvez fosse prisioneiro em sua reclusão. Do seu implacável sentido de
exigência. Da mania que tudo tinha de ser perfeito, mesmo que soubesse (ou lhe
tivessem ensinado) que a perfeição está ungida pelos dedos divinos. E repetia,
uma e outra, as vezes que fossem precisas, as ações como se elas viessem
perfumadas pela aurora onde se escondiam, em forma de segredo bem guardado, as
pétalas da perfeição. Era a sua tirania interior, esse irreprimível desejo de
arcar com o perfecionismo como se a imperfeição humana não lhe coubesse em
sorte. Provar o sabor azedo das decepções era a dor maior, o peculato da
imperfeição não admitida. Lambia as decepções nas feridas abertas pela
estrondosa realidade que desabava debaixo dos pés, quando dava conta que o perfecionismo
era maleita que ainda ia a tempo de corrigir. Até lá, teimava na frase do museu
de aeronáutica. A frase que era túmulo da sua ansiedade. Precisava de apagar a
frase da memória. Só faltava saber como pôr a memória a coberto da tirania do
perfecionismo. O tempo, em seu prometido porvir, seria prova dos nove.
Sem comentários:
Enviar um comentário