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Percorria as ruas na sua
solidão. A qualquer hora do dia, que não o assustava a cidade apressada. Os
olhos azulados e o pelo hirsuto denunciavam a linhagem de lobo. Podia não o
ser, que de um canídeo se tratava; mas parecia. Vira o cão três vezes em poucos
dias. Em lugares diferentes, distantes uns dos outros. A horas tão díspares
como a manhã, o entardecer e a madrugada alta. O cão era nómada, parecia
perdido entre as pessoas que eram indiferentes às suas errâncias. Podiam não
ser, errâncias. Podia aquele cão que mais parecia um lobo palmilhar as ruas
movimentadas à procura de um destino. Podia ser um albergue, um sítio sossegado
que fosse caução do sono que vinha a qualquer hora. Podia andar em demanda de
alimento, talvez um faro invulgarmente apurado para o odor de alimento a muita
distância. O lobo não parecia perdido. Não estava atordoado com as pessoas
apressadas. Não estugava o passo, a não ser diante de carros quando atravessava
as ruas. Porventura nunca sofreu maus tratos às mãos humanas, tanta a
indiferença, a mesma indiferença, que dedicava aos humanos na sua rota. Pela
marcha categórica, resoluta, dir-se-ia que era senhor de certezas. Extrapolara
conclusões (admitia que podiam ser precipitadas): aquele cão aparentado com
lobo devia ser um solitário. Nem com os da sua espécie se dava. Conseguia tudo
alcançar na persistência da militante solidão. Não parecia incomodado com o
estatuto. Talvez não tivera experiências gratificantes da antítese da solidão.
Ou talvez fosse de uma categoria rara, um sociopata que se refugiava na solidão
para reprimir a recusa agressiva dos outros. Mas não era pela agressividade
gratuita, a crer na serenidade do seu andar pelas ruas cheias de gente e de
carros. Dele não se veria dente arreganhado. A não ser que ameaçassem a sua
genética solidão. O lobo descera da serrania e entrara na cidade. A solidão
militante tinha a sua provação na socialização a que as ruas apressadas da
cidade o forçaram. Nem assim perdeu o pergaminho de solitário.
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