24.9.12

O casamento por um fio foi ao consultor matrimonial e foi salvo in extremis


In http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/divorcio/imagens/divorcio_dentro_pr.jpg
(As semelhanças com o momento político não são coincidência)
Já havia gente a estranhar tão demorada harmonia entre os consortes. Uns oportunistas, com a digestão mal feita por não terem sido eles os convidados para depor no altar, pressagiavam um fim breve para os consortes. Mandavam dizer que este matrimónio era de conveniência – como acontece com os arranjinhos entre a realeza europeia, ou os que unem, sob a sagrada bênção da igreja, herdeiros de fortunas com o fito de as multiplicar. Todos esperavam pela primeira crise dos consortes. Muitos adivinhavam que seria tão feroz que o matrimónio não sobreviveria dos escombros. Um dia, fez-se constar (dizem que a informação partiu de amigos chegados dos consortes) que estavam desamigados. O consorte tomara decisões sem querer saber da consorte. Esta, descontente com as decisões consumadas, veio para a rua dizer que não concordava. Os que nunca apostaram um cêntimo no matrimónio tiveram uma alvorada radiosa. Mas o casamento tinha de durar. Os consortes estavam fadados para a concórdia, ou os tutores que de estrangeiras terras vigiavam os caseiros negócios apressar-se-iam a fazer caretas feias e a ameaçar a debandada, deixando os caseiros negócios nas mãos do acaso. Entrou em cena o patriarca. Puxou os galões à respeitabilidade que faz questão de ostentar e intercedeu, com a sua autoridade maior, junto dos consortes que estavam no limiar da rotura. Conseguiu juntar os estilhaços que os danos já haviam feito, coseu as pontas e, ufano, anunciou aos interessados que o matrimónio não ia fenecer. Alguns já tinham encomendado serviços fúnebres de notários e do registo civil, pois adivinhavam o divórcio. Aliás, exultavam com o divórcio, pois pastam na adversidade dos (ainda) consortes. O patriarca da normalidade, feitor dos acordos alargados que não admitem divergências, patrocinou a harmonia celestial. A outra gente toda desconfia que a parelha está a prazo. Até à próxima facada. É dos livros: os matrimónios por conveniência terminam numa ode destruidora. Esticar a sua sobrevivência é um ato forçado que distribui danos por todos.

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