In http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/divorcio/imagens/divorcio_dentro_pr.jpg
(As semelhanças com o
momento político não são coincidência)
Já havia gente a estranhar tão
demorada harmonia entre os consortes. Uns oportunistas, com a digestão mal
feita por não terem sido eles os convidados para depor no altar, pressagiavam um
fim breve para os consortes. Mandavam dizer que este matrimónio era de
conveniência – como acontece com os arranjinhos entre a realeza europeia, ou os
que unem, sob a sagrada bênção da igreja, herdeiros de fortunas com o fito de
as multiplicar. Todos esperavam pela primeira crise dos consortes. Muitos
adivinhavam que seria tão feroz que o matrimónio não sobreviveria dos
escombros. Um dia, fez-se constar (dizem que a informação partiu de amigos
chegados dos consortes) que estavam desamigados. O consorte tomara decisões sem
querer saber da consorte. Esta, descontente com as decisões consumadas, veio
para a rua dizer que não concordava. Os que nunca apostaram um cêntimo no
matrimónio tiveram uma alvorada radiosa. Mas o casamento tinha de durar. Os
consortes estavam fadados para a concórdia, ou os tutores que de estrangeiras
terras vigiavam os caseiros negócios apressar-se-iam a fazer caretas feias e a
ameaçar a debandada, deixando os caseiros negócios nas mãos do acaso. Entrou em
cena o patriarca. Puxou os galões à respeitabilidade que faz questão de
ostentar e intercedeu, com a sua autoridade maior, junto dos consortes que
estavam no limiar da rotura. Conseguiu juntar os estilhaços que os danos já
haviam feito, coseu as pontas e, ufano, anunciou aos interessados que o
matrimónio não ia fenecer. Alguns já tinham encomendado serviços fúnebres de
notários e do registo civil, pois adivinhavam o divórcio. Aliás, exultavam com
o divórcio, pois pastam na adversidade dos (ainda) consortes. O patriarca da
normalidade, feitor dos acordos alargados que não admitem divergências,
patrocinou a harmonia celestial. A outra gente toda desconfia que a parelha
está a prazo. Até à próxima facada. É dos livros: os matrimónios por
conveniência terminam numa ode destruidora. Esticar a sua sobrevivência é um
ato forçado que distribui danos por todos.
Sem comentários:
Enviar um comentário