27.9.12

As alvoradas continuam radiosas


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Está tudo bem. Enquanto houver alvoradas. Assim como assim, nem interessa se veem carregadas com o timbre tristonho da chuva, ou com a resplandecência do sol viçoso. Haja almofadas a testemunhar o acordar quotidiano. O resto, detalhes que navegam na irrelevância a que pertencem os detalhes. Os tempos não vão de feição – dizem. E quem discorda? Todavia, há o bem maior de ter as alvoradas por bem dispostas companheiras (e uma família e as pessoas que nos são queridas, até um qualquer ato administrativo se lembrar de nos tributar pelas amizades e amores). Continuamos a ter as veias inflamadas pelas palavras comoventes, pelos gestos que consolam, por um olhar que tutela mais do que um aluvião de palavras. E temos o absurdo em redor atirando os confettis do surrealismo. Sem ele, o tempo ia para madraço, prisioneiro da sua monotonia. Até quando o negrume açambarca o horizonte, amaciando o olhar que decai na tristeza, saibamos cavar fundo para dirimir as incompatibilidades com o encapelado mar dos problemas. Das duas, uma: ou os problemas se transfiguram, reduzidos à condição de insignificância; ou os problemas são encaixados, olhando-os de frente como numa pega valente. Poderão as ruínas atiçar poeira tóxica e o corpo iniciar o lento envenenamento. Ou poderemos meter os olhos de frente à coisa problemática, sem cuidar de desgastar o tempo escasso nas angústias que esperam nas esquinas das aflições. O olhar desvia-se. Não foge; declina as consumições demoradas que embaciam os moinhos de vento onde se terçam os sonhos. Pois aí nunca empobrecemos, nem perdemos quem nos é querido, nem somos assaltados por diabretes que se apoderam das palavras que queríamos dizer só depois de as termos lido. Uma borboleta violeta atravessa-se na contumácia da luz matinal que desvela os segredos de um dia. Empresta-lhe a cor violeta. De repente, perdemos o rasto à borboleta. Mas não interessa. A cor já tinha sido tingida ao dia por diante. 

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