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Que estroinice. Eram os dias das
alegorias madraças, os pés pousados no fértil terreno da irresponsabilidade.
Havia uma palavra que gostavam de ouvir, mas só os eruditos açambarcados pela
sua indecência a proferiam: topete. Eram dados ao topete. À provocação
gratuita. Tinham passatempos preferidos. Partir ovos do alto da ponte, a gema e
a clara estatelando-se nos ombros de quem passava (de preferência homens de
negócios apessoados). Ir à festa do Avante com pins de Trotsky e a bandeira chinesa a tiracolo da mochila Carolina
Herrera. No jogo da “seleção de todos nós”, a meio do hino entoado com o brio
patriótico despirem os casacos que deixavam à mostra camisolas da equipa
adversária. Estagiar na estação de Santa Apolónia, bem no fundo do cais, quando
os comboios ainda vão em marcha lenta no arranque para a viagem longa e os
passageiros espreitam em despedida dos entes queridos, para darem uns tabefes
nos pategos à janela. Depois de uma noite de diversão, e depois de espalharem a
confusão provocando pancadaria à far west, amesendarem numa confeitaria seleta
misturando-se com o povo que trabalha e com as coquetes debicando tarte de
limão, pedindo mais uma mão cheia de cervejas destravando a vozearia. Iam
juntos a casamentos frequentados pela nata dos aspirantes a socialite e, na hora de desbloquear
conversa com os pimpões desconhecidos com que partilhavam mesa, descreverem com
detalhe uma noite de labuta na recolha do lixo, causando esgares de nojo nas
dondocas em ostentação de linhagens. Um dia foram à ópera e deixaram os
telemóveis ligados, propositadamente ligados em som estridente, para serem
contactados ao mesmo tempo e a audiência se irar com o toque que misturava
grupos de rock industrial. Eram os
dias estarolas. Queriam que as mãos estendidas resgatassem a demência saudável
da adolescência. Mesmo que fosse fora do tempo, que eram rapazes tardios nos trinta
e muitos, quarenta e poucos. Não queriam que se soubesse que até eram pais de
família.
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