In http://www.esquerda.net/sites/default/files/imagecache/400xY/aula_magna2_0.jpg
(Podia ser um retrato das coisas como elas andam)
Se alguém tem uma doença, vai
ao médico. Se a doença persiste e retira a confiança ao médico, procura outro.
E outro atrás de outro, enquanto a maleita persistir. A certa altura, deixa de
ter confiança na medicina tradicional. Entrega-se aos cuidados de curandeiros
que prometem a redenção através de mezinhas e tratos esotéricos. O desatino
pode dar nisto.
Se o desnorteamento não chega
a tanto, e se a forma convencional de ser faz deste nosso cidadão o protótipo
da mediania, não chega a perder a confiança na medicina. Vai mudando de médico.
À medida que os tratamentos confecionados deixam de ser paliativos e as dores
crescem na embocadura de cada manhã, cavando o fosso onde o ser decai. É então
que muda de médico. Informa-se. Há médicos outros que prometem tratamentos
diferentes. Um fogaréu de esperança invade o nosso doente. Demite o médico incapaz
e muda-se para as prescrições curandeiras do médico que oferece terapêutica
alternativa. Iludido pela consumição do sofrimento, o nosso doente nem dá conta
que se entregou aos médicos que foram causadores do seu mal. Os mesmos médicos
com um receituário que, na volta da curva, foi a semente da doença do nosso
cidadão. Ele, desesperado pela dor que morde tão incisiva, quer que lhe
prometam mundos que sejam a desconfiguração da enfermidade teimosa. Talvez a
ansiedade embacie o juízo. E o nosso doente nem dá conta que voltou para os braços
dos mesmos médicos que o acamaram nesta pungência.
Estes, vestindo a branca bata
e ostentando vistoso estetoscópio, fazem-se passar por o que afinal não são. De
curandeiros não passam – ou, vá lá que a condescendência pode ganhar seu lugar,
foram medíocres estudantes de medicina e continuam a ser seus maus praticantes.
Desembainham receituário repetido, nem sequer percebendo que o cocktail de medicamentos que preceituam
foi a dose quase letal que entregou o nosso doente aos padecimentos
hospitalares.
O que se dirá de médicos de
semelhante jaez? Que de curandeiros não passam. Amadores e míopes.
(Podia ser um retrato das coisas como elas andam. E não é que, pelo
andar das coisas, é mesmo seu retrato?)
1 comentário:
Quando era criança não percebia por que razão, nas mais diversas circunstâncias, os adultos (principalmente os que tinham idade de avós) se despediam de mim com os olhos brilhantes e as seguintes palavras: "saúde, minha querida menina ... muita saúde). Agradecia e pensava: Mas eu não estou doente!
Hoje, compreendo. Eles tinham toda a razão ...
Enviar um comentário