17.4.14

A Assunção pediu perdão

In http://www.radionova.fm/thumb/index/noticias/imagem/55ffdb00cb6262df7d43a2b34d0167de.jpg
Estávamos em polvorosa. A Assunção que preside ao parlamento ofendera (diz-se) os putativos donos do vinte e cinco de abril (e, de caminho – por que não? – da democracia) quando respondeu, no seu desbragado jeito, “é um problema deles”. Foi depois de um plumitivo lhe ter lembrado que os do reumático queriam usar da palavra quando o parlamento comemorasse o quadragésimo aniversário da revolução. Foi um pé-de-vento. Os capitães que fizeram o vinte e cinco de abril são gente sensível, merecem respeito por todo o sempre e nunca devem ser contrariados sob pena de se não respeitar a democracia que nos entregaram.
A retratação da Assunção não demorou. Mandou dizer, através dos jornais e das televisões, que decidiu, num ato de humildade democrática, ir à sede onde se reúnem os capitães de abril (que entretanto subiram na hierarquia da tropa). E mandou dizer mais: que ia ser um “encontro de afetos”. Nós, os que temos as mentes depravadas, logo congeminamos um alucinante ménage à tróis, pois os afetos amiúde um introito para manobras mais carnais. Mas duas das três personagens do encontro de afetos estão na senescência e o reumático não ajuda. As ditas personagens não estavam capacitadas para a função, o que de imediato desmanchou os pensamentos pecaminosos que os das mentes depravadas iam ensaiando.
À saída do encontro de afetos estavam os jornalistas empunhando microfones, gravadores, máquinas fotográficas e câmaras de imagem. A Assunção não vinha afogueada, conformando-se que a andropausa de duas das três personagens impedira que o encontro de afetos atingisse proporções lúbricas. Ato contínuo, a Assunção começou a disparar o habitual discurso gongórico, entremeado por uma simpatia encavalitada em tamancos circenses. A Assunção confirmou, para sossego da nação, que os equívocos estão sanados. Aquela é – sossegou-nos a Assunção – uma relação “inquebrantável”. Os afetos foram trocados e as desculpas aos proprietários do vinte e cinco de abril foram aceites. A humildade é bonita de se ver. Ter uma presidente do parlamento tão risível também.
(Juro que não é fascismo social, para não me acusarem de fazer chacota do sotaque transmontano da senhora – pois tenho uma costela transmontana e orgulho-me dela!)

Sem comentários: