In http://www.efecade.com.br/wp-content/uploads/2013/01/PEDRA.jpg
Ao
primeiro olhar, uma dureza que intimida. Os blocos inertes, mastodônticos, impenetráveis.
E nós temos apenas as mãos e umas artes rudimentares. A empreitada parece
impossível. Mas ao deitar, quando na véspera do sono repousam as apoquentações
sobrantes, celebramos a impossibilidade dos impossíveis.
A
alvorada faz-se radiosa. Os pés metem-se ao caminho, sem demora. Os planos
amontoam-se na revoada da tempestade cerebral. Não será a empreitada vultuosa
que desestima os esforços. As mãos vão às artes e começam a partir pedra. Centímetro
a centímetro. Vendo, com o passar das horas, um pequeno espaço nascer onde
antes fora império da pétrea rocha acinzentada. E nem as mãos ensanguentadas de
tanto as esforçarmos atemorizou a empreitada. O tempo foi passando, com
diversos tempos que se faziam, ora solarengos, ora tempestuosos, sem que as mãos
se não entregassem às gastas artes que continuavam perfeitas na sua função.
A
pedra partida caía pela encosta, dando outra feição à paisagem. As mãos
continuavam a partir toda a pedra que continuava a nascer das entranhas. Os
planos mentais não recuavam nas intenções. Era preciso arrotear a encosta. Era
preciso derrotar o terreno agreste, pois sabíamos que ali havia terra fértil se
a pedra que era sua dura epiderme fosse devastada. Os braços não se doíam,
mesmo que cada jornada de trabalho fosse da igualha de forçados trabalhos. E
nem a pele crestada pelo sol a pino, quando o estio causticava o lugar que já parecia
bastardo, ou o corpo enregelado ao cabo de um dia de tempestade, frígido pelo
vento e pela chuva severa – nada nos demoveu de cinzelarmos com as nossas mãos
uma nova feição ao promontório. Partimos a pedra que foi preciso para sermos
arquitetos da paisagem. Domámos a paisagem e então fomos feitores da sua
fertilidade.
Demos
vida a uma paisagem inerte, agreste, espontânea mas adormecida. Foram os nossos
braços que tomaram a paisagem num estirador. E as mãos foram fazedoras de um
milagre sem intercessões sobrenaturais.
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