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Miguel Esteves Cardoso disse, em entrevista
na televisão, que o irrita não haver quem diga “não sei”. Quase todos sabem
algo sobre alguma coisa, do conhecimento técnico e específico ao conhecimento
geral e às banalidades dos que se acham sabedores de tudo e mais alguma coisa.
A maior parte não gosta de dar o braço a torcer quando tropeça em perguntas de cuja
resposta se acha desconhecedora; ato contínuo, amanham um raciocínio
armadilhado, cheio de confluências e de desvios argumentativos, baço e hermético,
para muito falarem sem nada terem a dizer (além do desconhecimento de que devia
a humildade – que não têm na argamassa – dar conta).
Faz falta dizermos que não sabemos. E
partir em demanda do conhecimento. Do conhecimento que seja refrigério ao
conhecimento que vem de lastro, ou ao conhecimento ordenado que apenas serviu
para selar ausentes conclusões, ou ao conhecimento que dantes era desconhecido.
Pois é mais importante perguntar do que responder. As categóricas certezas que
nem admitem a insubordinação das certezas esbarram na incerteza que vem do
conhecimento subjetivo. É quando triunfam os apedeutas que se ignoram como tal (dupla
ignorância) e se ungem com conhecimentos que não são seus para ditarem
sentenças lavradas com lacre catedrático. Muitas vezes, dizer “eu sei” como
imperativo categórico é ocultação da ignorância. E, às vezes também, o topete
desta sobranceria absorve um módico de credibilidade, por quem a destila o
fazer com uma seriedade que atraiçoa a audiência.
A pior agnosia é não admitir que não se
sabe. É a que se embebe na ausente humildade para transfigurar os apedeutas em
enciclopédias itinerantes. Dizer “não sei” é a humildade que escasseia. É a
maior dose de sabedoria humana. “Não sei” é a porta aberta ao saber que não se
tem. É ter abertura para assimilar conhecimento que permita suavizar o “não
sei” de agora, sem que se transforme num categórico “eu é que sei”. No máximo,
devia ser permitido aos cultores dos conhecimentos que se acham ungidos por
dotes comunicacionais dizer “eu sei alguma coisa”. Que é como quem diz: “admito
que isto não seja o conhecimento absoluto”.
Voltamos à casa da partida: o que mais
importa são as perguntas que se fazem, não as respostas que se dão – e muito
menos, as respostas cerzidas com a reduzida dioptria dos categóricos
imperativos. Ele há tanta falsa erudição que nem nos escombros teria valimento.
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