21.4.14

“Prego a fundo”

In http://misteriosdomundo.com/wp-content/uploads/2013/09/O-tempo-para-na-velocidade-da-luz.jpg
Na vertigem, e por dentro da vertigem, consuma-se a velocidade estonteante (a que a vida passa). Não é desprezível a medida do tempo por que passam os olhos ávidos de experiência. Não é algoz, esse tempo; só se o desmazelo fosse fautor de uma existência lateral, estéril, cínica com a própria existência, que desagua numa praia árida quando os olhos se viram para trás.
Sabemos que o tempo em que assentamos é eterno, se assim quisermos – e se por lei nossa viermos a decretar uma nova definição de eternidade. Para lá chegarmos, sem que o sangue que nos alimentou ou o suor que vertemos não sejam em vão, somos rivais do latejar dos relógios. Queremos, às tantas, andar mais depressa que os relógios. Acometidos por uma vertigem indomável, sentimos que a medida do tempo se recolhe nas nossas mãos quando elas se entrelaçam. É um cavalo com crina sedosa o que cavalgamos. De onde vemos, nas latitudes álgidas, o mundo inteiro, como se sobre ele adejássemos com o freio domando o cavalo.
Éramos capazes de dar a volta ao mundo num punhado de minutos. E, todavia, conseguíamos emoldurar na memória as paisagens multiformes, as línguas diferentes, as cidades com linhagem, os museus edificantes, as culturas sortidas – tudo o que, num esboço, nos fizesse senhores do mundo. Do mundo que passa em velocidade vertiginosa na tela que são os nossos olhos. Até que o sono viesse num chamamento e o tempo encontrasse maneira de se imaterializar. A grandiloquência em nossas veias perfumando os sonhos com paisagens idílicas, as estrofes de poemas épicos entoadas pelas vozes quentes e as mãos outra vez entrelaçadas na síntese da combustão dos corpos.
Os relógios, então, em compasso sob a nossa batuta, ora ligeiros (as mais das vezes), ora na esboçada lentidão quando o contraponto da velocidade estonteante tivesse serventia. Mas sempre, sempre, com o pé bem fundo no acelerador da existência. Sem receio que as vertigens encasteladas embotem a travessia.

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