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Na vertigem, e por dentro da vertigem,
consuma-se a velocidade estonteante (a que a vida passa). Não é desprezível a
medida do tempo por que passam os olhos ávidos de experiência. Não é algoz,
esse tempo; só se o desmazelo fosse fautor de uma existência lateral, estéril,
cínica com a própria existência, que desagua numa praia árida quando os olhos
se viram para trás.
Sabemos que o tempo em que assentamos é
eterno, se assim quisermos – e se por lei nossa viermos a decretar uma nova
definição de eternidade. Para lá chegarmos, sem que o sangue que nos alimentou ou
o suor que vertemos não sejam em vão, somos rivais do latejar dos relógios.
Queremos, às tantas, andar mais depressa que os relógios. Acometidos por uma
vertigem indomável, sentimos que a medida do tempo se recolhe nas nossas mãos
quando elas se entrelaçam. É um cavalo com crina sedosa o que cavalgamos. De
onde vemos, nas latitudes álgidas, o mundo inteiro, como se sobre ele
adejássemos com o freio domando o cavalo.
Éramos capazes de dar a volta ao mundo
num punhado de minutos. E, todavia, conseguíamos emoldurar na memória as
paisagens multiformes, as línguas diferentes, as cidades com linhagem, os
museus edificantes, as culturas sortidas – tudo o que, num esboço, nos fizesse
senhores do mundo. Do mundo que passa em velocidade vertiginosa na tela que são
os nossos olhos. Até que o sono viesse num chamamento e o tempo encontrasse
maneira de se imaterializar. A grandiloquência em nossas veias perfumando os
sonhos com paisagens idílicas, as estrofes de poemas épicos entoadas pelas
vozes quentes e as mãos outra vez entrelaçadas na síntese da combustão dos
corpos.
Os relógios, então, em compasso sob a
nossa batuta, ora ligeiros (as mais das vezes), ora na esboçada lentidão quando
o contraponto da velocidade estonteante tivesse serventia. Mas sempre, sempre,
com o pé bem fundo no acelerador da existência. Sem receio que as vertigens
encasteladas embotem a travessia.
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