14.4.14

Os santos ofícios da pia batismal estão mestiçados

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Os tempos de agora já não são como dantes. É que dantes o batismo ungia as criancinhas com os sacramentos beatos e a doutrina ensinava que era o tirocínio para sermos bons cordeiros dentro do ordeiro rebanho. As águas da pia batismal aspergiam a boa têmpera divina na moleirinha das crianças de colo. Haveria um milagre nunca explicado pela ciência: a fonte batismal irradiava uma luminosidade que se acamava no mais profundo das criancinhas oferecidas ao sacramento, como se a sua genética ficasse lacrada para serem boas almas.
O pior era o depois. O crescimento das criancinhas e quando elas deixavam de o ser. Talvez os santos ofícios da pia batismal tenham prazo de validade. Ou o embeber dos cristãos e nobres sentimentos perca vivacidade à medida que se transfiguram os petizes, passando à idade adulta. A maldade ganha um palco. Os meninos marotos adestram-se no hedonismo, saltam as peias da sacristia, alvoroçam-se com as hormonas em ebulição, espreitam a nudez das meninas (ou dos meninos quando lhes apetece assim ser), às vezes têm apetites animais. Há meninas que parecem demónios, tresloucadas pela luxúria, seduzidas pelo homem alheio, depostas numa lhaneza não ensinada pelos pergaminhos da pia batismal, com apetites vis.
Ou, porventura, são as águas macias da pia batismal que têm diferente composição. Perderam atributos. Já não se embebem na perenidade. Não têm o préstimo que tinham dantes, quando o batismo caucionava o acolhimento dos infantes no reino divino. Alguém devia investigar onde são fabricadas as águas batismais. Ou se a bênção que se lhes ordena está encomendada pelos bons ofícios divinos. Às duas por três, o mal está nos sacerdotes que abençoam as águas batismais. Faz-se constar que há membros do clero que escorregam para os pecados que se diz não quadrarem com os bons ofícios da pia batismal. Por contágio da águas contaminadas por clérigos tresmalhados, os meninos assim entregues ao batismo estão condenados à devassidão.
Talvez alguém devesse inquirir se o mal está no agente que se desvia do conceito ou no próprio conceito. Se o pecado fosse banido do léxico, não havia peias e juízes que dispensam precioso tempo a fazer julgamentos de atos que não são seus. Nessa altura, a pia batismal seria uma piscina como outra qualquer.

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