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Os tempos de agora já não são como
dantes. É que dantes o batismo ungia as criancinhas com os sacramentos beatos e
a doutrina ensinava que era o tirocínio para sermos bons cordeiros dentro do
ordeiro rebanho. As águas da pia batismal aspergiam a boa têmpera divina na
moleirinha das crianças de colo. Haveria um milagre nunca explicado pela
ciência: a fonte batismal irradiava uma luminosidade que se acamava no mais
profundo das criancinhas oferecidas ao sacramento, como se a sua genética
ficasse lacrada para serem boas almas.
O pior era o depois. O crescimento das
criancinhas e quando elas deixavam de o ser. Talvez os santos ofícios da pia
batismal tenham prazo de validade. Ou o embeber dos cristãos e nobres sentimentos
perca vivacidade à medida que se transfiguram os petizes, passando à idade
adulta. A maldade ganha um palco. Os meninos marotos adestram-se no hedonismo,
saltam as peias da sacristia, alvoroçam-se com as hormonas em ebulição,
espreitam a nudez das meninas (ou dos meninos quando lhes apetece assim ser), às
vezes têm apetites animais. Há meninas que parecem demónios, tresloucadas pela
luxúria, seduzidas pelo homem alheio, depostas numa lhaneza não ensinada pelos
pergaminhos da pia batismal, com apetites vis.
Ou, porventura, são as águas macias da
pia batismal que têm diferente composição. Perderam atributos. Já não se
embebem na perenidade. Não têm o préstimo que tinham dantes, quando o batismo
caucionava o acolhimento dos infantes no reino divino. Alguém devia investigar
onde são fabricadas as águas batismais. Ou se a bênção que se lhes ordena está
encomendada pelos bons ofícios divinos. Às duas por três, o mal está nos
sacerdotes que abençoam as águas batismais. Faz-se constar que há membros do
clero que escorregam para os pecados que se diz não quadrarem com os bons
ofícios da pia batismal. Por contágio da águas contaminadas por clérigos
tresmalhados, os meninos assim entregues ao batismo estão condenados à devassidão.
Talvez alguém devesse inquirir se o mal
está no agente que se desvia do conceito ou no próprio conceito. Se o pecado
fosse banido do léxico, não havia peias e juízes que dispensam precioso tempo a
fazer julgamentos de atos que não são seus. Nessa altura, a pia batismal seria
uma piscina como outra qualquer.
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