9.4.14

Se o sangue não me engana

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Se o sangue não me engana, os promontórios hão de ser meus. Tratarei de ascender as veredas mais íngremes, alimentar-me do sol diante dos olhos, sarar as feridas com o sal do mar, enxugar as lágrimas que quiserem marejar os olhos. De tão alto parecer, conseguirei deitar o olhar sobre o mundo inteiro.
Se o sangue não me engana, perder-me-ei na vastidão das planícies. Onde as cores douradas tomam conta da paisagem e as mãos se amaciam nos arbustos aveludados. Caminharei as milhas que forem precisas sem que os pés me doam, até encontrar um azimute que franqueia a janela por onde entram todas as cores. E então, reconciliado e em jeito de triunfalismo, beberei três cálices de vinho de ouro para o corpo remoçar.
Se o sangue não me engana, andarei nos antípodas de curandeiros vários. Que as enfermidades sejam matéria distante, mercê da sinfonia entoada enquanto escuto os cantos dos pássaros em redor. Não serei de tomas de medicinas ou refém de doenças que não passam de efémeros sintomas. Não serei de me entregar ao leito quando o corpo madraço se simula em moléstias. Pois o tempo todo será escasso para embeber o tanto que o mundo consagra.
Se o sangue não me engana, serei olhos que através de si outros veem. Serei as mãos que se adelgaçam na forma de cais onde outras aportam. Serei uma voz sem agitações, um pensamento fecundo, o feitor das interrogações, o viajante destemido, um mar ora fácil de manter, ora iracundo mercê da perturbada tempestade que o desinquieta. Serei um corpo resistente. Um corpo coreografado no cinzel das palavras feitas poemas. Um sangue fervente quando a fervura tem serventia, ou um sangue sagaz quando a lucidez se antolha. Serei um manto requentado que adormece os rigores invernais, um refrigério quando o estio sopra os alísios africanos. Metade geea﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽ra metade.rorecisas, deitar o olhar sobre o mundo inteiro.itogo em hipoteca da segurança dos haveres. se émea de outra metade.
E, se o sangue não me engana, serei uma ebulição vivaz, a combustão de dois corpos em sua fusão, o laço que adorna os dois corpos. Sem os repelões que desassossegam, ou os vitrais opacos que não deixam ver cá para fora, ou as tochas desconjuntadas de que procede uma arritmia de fogo hipotecando a segurança dos haveres. Se o sangue não me engana: todo o sangue vertido em mim, e o mar inteiro meu repositório. À condição de o sangue me não enganar.

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