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Andava à cata de lágrimas perdidas no
chão. Demandava os cicerones da lucidez se a razão não tinha embotado no
nevoeiro que teimava. Olhava para o mar desarranjado e sondava as sereias
escondidas se não se tinha perdido a meio do caminho.
Por onde passava só existia o trinado da
solidão. Não tinha amigos. Não estava perto da família. Ou não tinha família por
perto. No trabalho só pesava a indiferença e o anonimato da existência (mal
sabiam o nome dele). E, contudo, não se lembrava de uma mágoa que fosse. Não
tinha recordação de verter lágrimas ou de lhe doer a solidão. Afastara-se, por
sua vontade. Quisera rumar a um lugar desconhecido e remoto. Respondeu à
erupção de uma demanda sem freio que o encomendara a um exílio interior,
demorado. Não sentia falta do que deixara. Parecia desejar a solidão que
noutros deixaria um sabor a melancolia.
Neste tempo de exílio voluntário,
aprendeu a conviver com a solidão. Havia dias seguidos imerso no silêncio – e, às
vezes, era o silêncio que doía. Temia que as palavras ditas se enferrujassem
com o destreino, ou que a voz ficasse amarrada na falta de uso das cordas
vocais. Era quando dava consigo a fazer como os dementes que se julgam
prisioneiros de múltiplas personalidades e desatam a falar alto sem terem ninguém
por perto. Havia noites de insónia. Não eram por causa da solitária condição a
que se entregou. (Ou disso se quis convencer.) Nos despojos da insónia errava
pelas ruas da cidade, multiplicando a sua solidão pela solidão noturna que
tomava conta da cidade. Paradoxalmente, era quando reavia as forças que a certa
altura julgava exíguas.
As fartas rochas que tombavam sobre as
margens do rio eram a embocadura dos pensamentos. Nem o cheiro pútrido, fazendo
adivinhar que naquele canto muitos se aliviavam de águas excessivas, apoquentava
os pensamentos. Ficara tudo tão longe que do que ao longe ficara já não
lembrava rostos, palavras, gestos. O que era temporário começou a ter sua
demora. Não era um novo começo. Nem era uma continuação de nada que viesse de
trás. Era apenas uma diferença alinhavada no canto minimalista das andorinhas a
caminho do exílio. Porque há exílios necessários. O respeito por si mesmo o impõe.
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