In https://c1.staticflickr.com/9/8054/8103858007_3dba06d939_z.jpg
Tomamos conhecimento das pedras que
magoam os pés ao passar. Pois que a todos elas acometem. Há-as irrisórias;
declinam-se na irrelevância de que carecem. Há as outras, pontiagudas, que
povoam sobressaltos, a menos que também sejam atiradas para o labéu da vanidade.
O que talvez não saibamos é que o desmerecimento das contrariedades é um arma
que temos em nossas mãos. Uma arma que não damos conta de estar no arsenal. Uma
arma de irrelevância maciça.
Às mãos, as armas poderosas que são o
virar do rosto para o lado contrário das tempestades. Às mãos, pois, a
purificação das missões de extinção das vilanias que se semeiam em nossa
peugada. Essas são as armas, e poderosas, com que terçamos. Pois a
incandescência dos dias luminosos não aceita que outras sejam as armas quando
as apoquentações se insinuam por todos os lados. Com as armas que temos, de pacíficos
pergaminhos, a bem da sanidade por onde acamam as veias.
É o que acontece quando alisamos as
areias que a maré tumultuosa descompôs. Deixamos o areal numa ordenação próxima
da perfeição. Ainda vemos os estorninhos que parecem seduzidos pela perfeição
do areal. Depois de o contemplarem num voo desenhado, aterram com a ligeireza
das suas finas patas. Dedilham os pequenos seixos arredondados que são a
argamassa da areia grossa. Não esboçamos protesto pela desordem que os
estorninhos vieram instalar. Afinal de contas, tamanha harmonia não pode ser
julgada desordem alguma.
Enquanto deixamos os estorninhos em sua
coreografia salgada, metemo-nos a caminho, o mar nas nossas costas todavia
deixando o perfume da maresia matinal embeber-se em todos os poros. Os olhos estão
virados a nascente, de onde se levanta o sol, ainda tímido. A claridade
singular irradia à medida que os minutos fogem. Quando o dia se anuncia
soalheiro em toda a sua pujança, o sol perde parte do seu encanto (a crer no
diapasão que ajuizou o encantamento da luz alvorada). Não chega para adulterar
os olhos bem abertos, ávidos de passarem a vista pelo enlevo que o existir
deixa em legado. Podia, até, a manhã ser brumosa, embaciada pela trémula luz
que a cortina de nevoeiro deixa passar, que os olhos continuavam repletos de
feitiço.
Pois a arma mais destemida que podemos
terçar é a que derrota a pulsão opressora das importunações.
Sem comentários:
Enviar um comentário