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Descontando
a alusão sexual, a idiossincrasia nossa é a relação entre um sádico e os
demais, que ao seu poder se submetem e que são educados, desde a terna idade e
nos bancos da escola, para serem masoquistas. Isto talvez explique um dos mitos
urbanos acerca da têmpera deste povo: que somos mansos, desligados de convulsões
que impliquem o uso da força bruta, os tais brandos costumes a que vulgarmente
se faz alusão. Somos assim porque somos abúlicos, ou porque somos instruídos a
ser apaticamente bovinos, amestrados perante as criaturas que se apoderam da
roda do poder e que fazem garbo dessa condição escondendo-se em mansas falas? À
medida que o tempo passa, e enquanto vão desfilando exemplos sem conta, que vêm
de todos os quadrantes políticos com visibilidade pública, inclino-me para a
segunda opção.
Hoje
esbarrei noutra prova. No meio do escarcéu com alto decibéis, porque a troika
aterrou para a última avaliação periódica, fez-se saber que o governo vai
fechar metade das repartições de finanças. Já que tanta gente vocifera contra
os "cortes", e que o povaréu, acolitado por gente ilustre que é porta-voz
de correntes críticas, protesta contra a sangria nos serviços públicos, vou às
palavras sentidas do porta-voz dos autarcas, que tem linhagem socialista. O
senhor Machado, autarca de Coimbra, depois de adjetivar com estrépito a decisão
de encerrar metade das repartições de finanças (“repugnante”, assim lavrou),
verteu lágrima de crocodilo com o propósito de requisitar a emoção do público
mais desatento. E sentenciou que as repartições de finanças são um símbolo da
ligação entre a república e o cidadão. Ato contínuo, reprovou a intenção de
encerrar tantas repartições de finanças, pois a população desses lugares iria
perder uma bússola – quase como se ficasse órfã.
Faltou
completar o raciocínio, sem omissão de palavras relevantes para o mesmo: de
facto, as repartições de finanças são um símbolo da república junto dos cidadãos.
Mas não da ligação entre ambos, porque essa teria de ser fundada na vontade de
ambas as partes, o que não parece ser líquida conclusão. Será, para muitos
cidadãos, para o efeito involuntariamente transformados em contribuintes, um símbolo
da opressão da república sobre o cidadão, na forma do esbulho fiscal que não
tem travão.
O
senhor Machado é o sádico de serviço que usa falinhas mansas e recorre à retórica
retorcida para nos amansar e assim sermos involuntariamente levados à condição
de masoquistas. Pois se o que nos pedem é que protestemos contra a extinção dos
lugares onde sobre nós se abate o esbulho do suor do trabalho, e que sejamos peões
nesta estratégia, é porque nos pedem para levarmos no lombo e dizermos, ao
mesmo tempo, que estamos a adorar.
A servidão que estas “lições de
cidadania” nos serve é um veneno. Ele sim, “repugnante”.
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