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Uns famosos metem fotografias íntimas
numa “nuvem virtual”. A rede global, que tem umas falhas de segurança, não é à
prova de bisbilhotice e de gente mal intencionada. E as fotografias que se
queriam íntimas passam para o domínio público. Acessíveis aos olhos de quem as
quiser ver. Deixam de ser pertença da intimidade.
Mas, em bem pensando, quem, no seu juízo,
corre o risco de ver devassada a sua intimidade? Há gente que não se importa de
confundir intimidade (própria e dos outros) com matéria que interessa à
comunidade global. Não vejo nada de errado, pois cada qual gosta do que lhe apetecer.
Desde que a comunidade voyeur não se
incomode quando a sua intimidade deixar de o ser, pois de outro modo não há
paga igual por gostarem de ver a intimidade dos outros pelo buraco da fechadura.
Em não havendo mal em que cada um faça o que bem entender com a intimidade que
é sua, mal haverá se os que convidam ao voyeurismo
alheio ficam assarapantados quando descobrem que a sua intimidade passou para o
domínio público.
Aos que correm riscos, a consciência das
capacidades para intuir consequências. Uma intimidade que vai para a rede
global deixa de ser intimidade. Imediatamente. Não é preciso que alguém consiga
espiolhar as grutas cavernosas da rede global para encontrar essa intimidade.
Chega ela ser acervo da rede global para já não ser intimidade – mesmo que
ninguém tenha interesse em abocanhar um naco dessa intimidade. É que ninguém
pode garantir que, em sendo anónima gente, ninguém se interesse pela sua
intimidade. Eu digo que as pessoas que são tão transparentes, tão
transparentes, que fazem da sua existência um livro aberto (diria: escancarado)
aos olhos outros, já perderam de vista o significado de intimidade. Há quem
teça um novelo moralista advertindo os voyeurs
do avesso que deviam ter vergonha e não vir para a praça pública expor a sua
intimidade.
E a mim, não sei se incomoda mais a
leviandade dos que abjuram a sua intimidade, os moralistas datados apontando o
dedo censurador aos que esboçam um esgar de horror ao saberem o que se sabe da
sua intimidade na rede global, ou o moralismo que me ataca por deplorar os
faroleiros da intimidade própria e os ratos de sacristia (de diversas
sacristias) que pregam lições de moral.
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