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Já não é como dantes. Quando os gestores
eram gente cinzenta. Não gostavam do contacto com a maralha, nem queriam ter
uma imagem bem posta junto dos cidadãos. Ignoravam a comunicação social, a não
ser para efeitos que aproveitassem os negócios. Eram distantes. Misteriosos,
até. Não lhes faltava arrogância para manterem as distâncias e apurarem o
sentimento de casta, de uma casta imensamente pequena, a que os simples mortais
não tinham acesso. Não se lhes conhecia vida privada. Não queriam.
Agora é diferente. Os novos gestores são
mais jovens e sorriem, sorriem muito. Cuidam da aparência. São simpáticos.
Cultivam a proximidade. É o que mostram quando a imprensa e a televisão batem à
porta à procura da sua iluminada opinião. Os Zeinal Bava, Horta Osório, Carrapatoso
& companhia irradiam simpatia. Falam com um sorriso como esgar. São
modernaços. Nas empresas que gerem, misturam-se com os demais. Não querem um
pedestal nem açambarcam arrogância que cultiva o desprezo dos subordinados. Vão
aos eventos que cimentam o espírito de grupo entre os “colaboradores” da
empresa – sim, “colaboradores”, porque chamar-lhes trabalhadores é marxista e
despropositado. Fazem furor no estrangeiro, depois de terem conquistado a palma
da gestão no país que ficou pequeno de mais para a sua estatura.
Só que esta simpatia e a proximidade com
os da arraia miúda são plásticas Tudo soa a artificial. Os sorrisos, o ar
modernaço, o gosto pelas artes, a erudição que não quadra com a tecnocracia em
que são militantes, a simpatia que é tão contagiante que dá para interrogar se
não é apenas um embuste numa altura em que até para os gestores (e não só para
os políticos) conta tanto a imagem cinzelada junto do público.
Às vezes, dá para sentir saudades dos
gestores de antanho. Dos macambúzios que assustavam a maralha com o rosto tão fechado,
com a antipatia indisfarçável, com a alergia pela simpatia e a denegação do
sorriso. É que, ao menos, ali tudo era genuíno.
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