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Que empreitada! À cata das palavras,
julgando que há palavras certas. Ainda acreditando que há sempre palavras
certas que quadram com o momento, ou com o estado de alma. É como andar a
apanhar amoras e por entre as silvas ir meticulosamente escolhendo os frutos
que prometem, pela aparência, doces prazeres.
São difíceis, as palavras, quando as
queremos sob a batuta da perfeição. É uma ambição. Ousada. Porque, mandam as
convenções, a perfeição ou não existe ou é do domínio dos deuses (e, em assim
sendo, é como se não existisse, pois está fora de mão dos mortais). Seja o que
for, as palavras são difíceis porque às vezes não queremos que elas traduzam o
que não querem traduzir. De vez em quando, uma pulsão sem controlo toma conta
da mão e ela descarrega uma ira sem razão intermediada por palavras difíceis. O
sentido é diferente: não são as palavras que são difíceis de encontrar, na
demanda, talvez inútil, das palavras certas. São as palavras difíceis ao
entendimento. Alguns fazem-no porque querem ostentar erudição, como se fosse preciso
comparar as medalhas para amesquinhar quem fica abaixo dessa erudição. É uma
vaidade semântica sem conteúdo lá dentro.
De outras vezes, as palavras que são
difíceis tornam-se ainda mais difíceis porque não são de uso comum. Não são
palavras ditas em conversas entre gente comum. Nem entre gente erudita, que as
conversas não se fazem nesse registo. O que interessa é encontrá-las, preciosas
pedras cinzeladas por artesãos domadores de palavras. Não é preciso vocabulário
extenso. Não é preciso encontrar sinónimos para palavras gastas pelo uso
popular. Elas amontoam-se na cabeça, começam a ser decantadas, e o apuro dos
sentidos faz delas um todo com musicalidade e intenção.
Mas as palavras são difíceis porque
convocam a originalidade. E, tantas vezes, a originalidade está no que é
simples. A sobranceria vã das difíceis palavras é uma complexidade que atraiçoa
os sentidos. É quando palavras nenhumas conseguem traduzir os sentidos
incensados nas veias fulgurantes.
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