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Esta é a adorável sociedade da
solidariedade. Ai de quem fugir do seu imperativo social solidário, que logo
apanha com o isolamento como castigo. Temos de nos ajudar uns aos outros.
Porque, mesmo que hoje da ajuda não precisemos, ninguém sabe se amanhã não
vamos dela ficar carentes. À cautela, sejamos solidários. É um pouco como a
caridade que (alguns) cristãos fazem querendo paga posterior, em forma de juros
do investimento de hoje, num pedaço do lugar celestial reservado aos menos
pecadores e aos que mais arrependimentos tenham expiado.
Esta idiossincrasia vulgarizou as
facilidades que se requisitam. Dá-se uma mãozinha para que quem dela precise
não se afunde nas dificuldades. Pois as dificuldades são uma injustiça que não
quadra com a bondade dos deuses. As dificuldades são a fonte das desigualdades
que estão fora de moda, em ostracismo. Por isso, temos de dar uma mãozinha
porque, de hoje para amanhã, podemos ficar no estado de necessidade de quem
precisa de uma mãozinha para se salvar do naufrágio. E assim vamos todos,
vogando em cima da frágil jangada, num frágil equilíbrio, em cima de um mar
voraz que nos quer devorar.
Mas é só uma mãozinha que se pede. À
falta de ser possível encurtar o tamanho da mão para passar a ser uma mãozinha,
o diminutivo retrata a imagem da pequena ajuda que basta para as necessidades.
Ou o diminutivo é um eufemismo propositado, uma sombra que oculta o tamanho da
ajuda que se demanda – afinal, não uma ajudinha, mas uma ajuda de todo o
tamanho, como quem pede dez para obter cem. Pede-se uma mãozinha com pudor de
pedir a mão inteira. Talvez seja excessivo. E a quem ela é pedida fique
perplexo, pois ao dar a mão inteira ficaria pela metade para se salvar das
intempéries que o viessem buscar como vítima. E por mais que ser solidário seja
imperativo dos bons, ninguém quer sucumbir por ter ajudado outros.
Pedimos mãozinhas uns aos outros, numa
interminável cadeia que enlaça a humanidade. Quem falou em puxar lustro aos
esforços que vêm de si mesmo, se há tantas mãozinhas ávidas de se lançarem a
quem delas precisa? Como é tão belo o espírito solidário.
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