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As abelhas. Trabalham como nenhum ser
vivo. Organizam-se numa hierarquia social perfeita. Amedrontam e incomodam,
quando, desorientadas, esvoaçam sobre as pessoas e querem aferroar. São como os
kamikazes japoneses que lançavam ataques suicidas, acreditando que morriam
heróis. As abelhas são uma perplexidade. Polinizam as flores e despojam-se dos
rudimentos do que haverá de ser mel assim que os favos ficarem a preceito. O
doce mel, que compõe receitas populares para resfriados.
Só que às vezes deitamos fora o mel.
Mesmo sabendo que o mel não tem prazo de validade. Ou porque o frasco caiu e se
despedaçou no chão, entaramelando-se o mel nos fragmentos de vidro pulverizados,
inútil o mel derramado no chão. Ou porque, em mudança de uma casa para outra,
os potes de mel ficam para trás entre os pertences fadados ao desperdício. Não
devíamos ser apicultores. Mas devíamos, ao menos, aprender com as abelhas.
Ao calhas, terçamos as armas que são
nossa futura sepultura. É como deitar fora o mel. Nunca sabemos se o porvir não
vem reclamar a perda. E como depois não podem os arrependimentos recuar ao
tempo focado, dá-se como irremediável a perda. Não sabemos os danos que vêm
depois. Não sabemos se o mel deitado fora é o mel derradeiro. Pois as abelhas,
ultrajadas, podem ficar exangues, perecendo uma atrás da outra. Até que as
colmeias sejam dizimadas numa autofagia causada por quem se desapossou do mel.
Quando as abelhas já nem espécie extinta forem, damos com a impossibilidade do
mel.
Oxalá a lucidez não se embote entre a
penumbra das resoluções sem razão. Oxalá deixemos o mel quieto na prateleira,
onde o pote de barro que o resguarda apanha a poeira que sinaliza o esquecimento.
Mal por mal, antes o mel esquecido. Ao menos, existe. O mel deitado fora é uma
perdição insanável. As abelhas soçobram a seguir. Pois deixam de ter serventia.
Não podemos ser os algozes das abelhas. Cabe-nos guardar o mel como se fosse
sagrado.
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