Pond, "Aloneaflameaflower", in https://www.youtube.com/watch?v=LbODngNdZF8
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Ouvi falar em destruição criativa. Somos reféns de paradoxos?
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Tudo tem um contexto. Não podemos ficar presos à literalidade das palavras.
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Mas tu és da área. Como se pode conceber que da destruição, em vez do caos,
venha a criação?
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Queres falar de ciência, ou transitar pela linguagem das metáforas?
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Não entendo. Pensei que fosses arrematar a conversa pelos cânones da tua
especialidade.
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Mas isto transcende qualquer ciência.
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Não percebo.
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Pois não nos é dado, na rotina da existência diária, a esmagar o que temos por
adquirido quando esse adquirido nos desassossega, quando por ele trazemos um
rosto sombrio e andamos sonâmbulos pelas algemas do pesar?
- O
que me dizes deixa-me inquieto...
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Digo-te que, às vezes, temos de renegar quase tudo. Que essa é uma condição
para a reinvenção do ser, ou deixamos de ser e entramos num pântano que devora
as forças. E vegetamos, só vegetamos.
- Se
é assim com indivíduos, assim será com sociedades?
- E
que mais não são as sociedades do que o somatório de todas as vontades
individuais, umas alcançando mais protagonismo que outras?
- Como
sabemos que um dado momento é a circunstância da destruição criativa?
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Quando as interrogações fervilham e as respostas são nutriente de mais interrogações
ainda. Quando parece que não chega a haver alvorada. Quando os pássaros se
despojam do canto. Quando os fogos consumiram as serranias que os olhos avistam
e a aridez magoa. Quando os pés sangram por serem açoitados pelas pedras que
enxameiam o caminho por onde seguem. Quando a canseira é tanta e o sono teima
em ser contumaz. Quando o corpo pede outra geografia.
- Então
diz-me: que fazemos quando o apelo da destruição criativa falar tão alto?
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Criamos destruição. Seletiva. Ou, em momentos de refundação imperativa, devastadora,
sem anelar exceções. Destruímos o que estava criado para do caos salvífico renascer
um impulso de criação.
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