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- São
precisos segredos – dizias, enquanto o queixo repousado sobre a mão parecia
inspirar as ideias.
- São
precisos segredos – perguntava eu – para
quê?
- Talvez
para deixar pelo ar o sedimento da cumplicidade. Talvez para não deixar que os
laços fiquem lassos.
- Mas...e se os segredos forem terríveis, pode
alguém arrastar a quem os confia para o mesmo abismo que o atormenta?
- Julgas
que os segredos são sempre matéria má. Pode haver segredos que se recomendem à
saúde das almas...
- Desconfio
que não. Até hoje, todos os segredos que me foram confiados trouxeram com eles
fantasmas que dispensava.
- Ah!
Mas tu tens liberdade para distinguir os segredos que queres guardar.
- Não!
Uma vez revelado o segredo, tomara pudesse uma amnésia qualquer apoderar-se da
memória. Não acontece. Ficamos reféns dos segredos.
- Já
contaste um segredo de que te pediram para seres fiel curador?
- Sabes?,
evito segredos. Segredos dos outros. Quando eles vêm com pré-aviso, declino a
função. Não quero saber dos segredos dos outros.
- E
não temes que ao não quereres ser guardador de segredos estás a trair a
confiança de quem tos quer confiar? Não achas que é pior essa traição do que a
traição de contar um segredo?
- Não
quero saber. Há um limite. Por mais confiança que haja, quando quem revela um
segredo sabe que está a impor uma violência ao outro, devia morder a boca,
reprimir as palavras. Habituar-se a ter esse segredo como matéria apenas sua.
- Tu
temes ser transgressor de segredos.
- Já
te disse que não. Não quero saber dos sobressaltos alheios.
- Bem
me parece que não te consegues desprender desse tremendo egoísmo.
- Chama-lhe
o que quiseres. Não me interessa. Já me chegam as cicatrizes que trago na pele.
- E
se um dia fores tu a querer confiar um segredo?
- Já
aconteceu. Não foi agradável. E não foi por receio de que viesse a tornar-se
público. As importunações pessoais devem ficar dentro das ameias do ser.
- Não
devemos ajudar quem precisa?
- Não
é disso que se trata. Um segredo deixa de o ser quando transcende o seu fautor.
Dois, ou mais, a conhecê-lo e já não é segredo.
- ...
- Espero
que esse silêncio não te traga a vontade de me contar um segredo.
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