18.9.14

Queremos flores


In http://wallpaper.ultradownloads.com.br/49035_Papel-de-Parede-Crisantemos-Sortidos--49035_1440x900.jpg
Não vamos às lágrimas, que as flores espalhadas pela casa são antídoto. Não vamos soçobrar na indiferença, no letargo que abjura a grandeza que somos. A nós, as flores. Todas as flores. Reinventamos as flores, se preciso for, para emprestar ao mundo a recriação das formas, das cores, dos aromas. Não são de mais as flores que abraçarmos.  Elas são um lampejo da luminosidade de que somos candeias. Atravessamos as serras e as planícies com as flores no dorso, à lapela de uma orelha, como se fôssemos hippies esotéricos, sem o sermos. Atravessamos os rios que dobram os vales em cima de tapetes feitos com as flores que alojamos no bornal. Vêm os tempos madraços e matamo-los com os crisântemos esplendidos pendidos sobre uma jarra feita de simplicidade. Espreitam os vasos que alojam as plantas carnívoras, mas sobre elas vertemos as flores que apascentam o sossego das almas, e as plantas fazem-se vegetarianas. Subimos ao dorso do cavalo alado, metemos as mãos na crina dourada e guiamo-lo com o perfume das rosas silvestres. Entregamos as chaves que selam o dilúvio num aquário cheio de peixes, num aquário onde as algas foram substituídas por flores adaptadas ao meio. E, mesmo debaixo de água, as flores que manipulamos não perdem a essência, rejuvenescem a água com um perfume bizantino. À noite, quando nos depomos nos sonhos que enfeitam o sono, somos tutelados pelas flores que se acotovelam nos móveis, nas janelas, nas fruteiras na soleira da casa, nas pétalas que se despojaram dos caules carnudos e, todavia, não perecem nem perdem qualidades. O chão é um tapete de pétalas, um mosaico de cores que serve de batuta às almas, a crisálida que amacia os ossos para a doce alvorada que virá a seu tempo. Às mãos deitamos flores, com elas lavamos a alma quando precisa de decantação. E se no sono somos tutelados pelas flores, pelo dia passamos a ser seus tutores. Alquimistas que inventam flores novas, cores novas, odores deslumbrantes que nunca alguém sentiu. Sabendo que, pelo tempo fora, é só seguirmos as pétalas que atapetam o chão descoberto pelos nossos pés.

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